
A nosso favor
Não houve campanhas de solidariedade
Não se abriram os lares para nos abrigar
E não houve braços estendidos fraternalmente
Para nós
O mar transmitiu-nos sua perseverança
Aprendemos com o vento a bailar na desgraça
As cabras ensinaram-nos a comer pedras
Para não perecermos
Somos os flagelados do vento leste
Morremos e ressuscitamos todos os anos
Para desespero dos que nos impedem
A caminhada
Teimosamente continuamos de pé
Num desafio aos deuses e aos homens
E as estiagens já não nos metem medo
Porque descobrimos a origem das coisas
(Quando pudermos!...)
Somos os flagelados do vento leste
Os homens esqueceram-se de nos chamar irmãos
E as vozes solidárias que temos sempre
Escutado
São apenas
As vozes do mar
Que nos salgou o sangue
As vozes do vento
Que nos entranhou o ritmo do equilíbrio
E as vozes das nossas montanhas
Estranha e silenciosamente musicais
Nós somos os flagelados do vento leste
Ovídio Martins
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