Volto com mais uma nota para recolocar uma questão que, por coincidência, o Alvarito postou no seu facebook: “Quando é que um líder evangélico será convidado para abençoar uma inauguração qualquer nessas ilhas? Ou será que a bênção divina é exclusiva de alguma religião?” Eu clarifico: Em um país que se diz laico, porque é que, para uma inauguração de obras de Estado ou não, sempre é o bispo ou padre a ser chamado para a bênção? Os outros são simplesmente ignorados. O que reacendeu esta descriminação (não tem outro nome) aconteceu no último domingo, 9, na ilha Brava, com a inauguração do catamarã. Ressalvo que, nem o bispo, nem os padres, nem a igreja católica têm culpa. Esta deve ser assacadas a altos dirigentes do Estado que, reiteradamente, vêm ignorando as demais confissões religiosas em Cabo Verde. Curioso é que, estes mesmos altos dignitários não fazem questão que se instalem em Cabo Verde, em nome desta pretensa liberdade religiosa, religiões estranhas com ensinos e práticas contrárias à nossa cultura e matriz marcadamente cristãs. Se por um lado, algumas práticas como essas de inaugurações e a propalada concordata nos fazem lembrar o Estado Novo, por outro, e em contra-ponto, há essa desmedida responsabilidade em apadrinhar bancos e investimentos, mesmo sabendo que atrás estão outras intenções. É com liberdade de pensamento, que me é inalienável e inegociável, que questiono sobre esta clara contradição. É aceitável que se proceda assim, isto é, que bispos e padres apareçam nas inaugurações de obras de Estado? Não. Nenhuma confissão religiosa tinha que aparecer. Entretanto, se tiver que estar lá para benzer ou abençoar, que haja igualdade de tratamento. Esta terra não é propriedade exclusiva da igreja católica. Ela pertence a todos os cabo-verdianos. Este tratamento especial é, manifestamente, ilegal e inconstitucional. Engrossa este rol de ilegalidades e inconstitucionalidades a afectação da residência oficial em Mindelo, património do Estado de Cabo Verde, à recém-criada diocese de Mindelo. Este procedimento pode parecer generoso, mas é também perigoso. Perigoso porque o próprio Estado, em vez de cumprir o seu papel de promover tratamento igual a todos os cidadãos, é o primeiro a transigir. Protesto, como cidadão de pensamento livre, contra toda e qualquer forma de descriminação, venha ela donde vier. Desejo, em nome da justiça, que, nesta terra de todos nós a qual todos amamos, ninguém seja beneficiado em detrimento de outro. Para terminar esta minha nota de protesto, empresto ao saudoso pastor Martin Luther King a sua célebre frase – I have a dream. Sonho ver meu país totalmente livre, livre de toda a espécie de descriminação, livre de todos os tiques do colonialismo, livre de toda a manipulação ou tentativa dela, totalmente livre. Quero ter a liberdade de protestar contra tanta desigualdade que campeia nesta terra. Que ninguém ouse proibir-me de pensar. Até lá, enquanto persistirem a descriminação, a desigualdade, a indiferença e a hipocrisia, não tenho outro remédio senão protestar. Protesto. Deu para entender?
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