Elas são Marias, Lúcias, Helenas, Carolinas, Cássias... Pertencem a diferentes classes sociais, níveis intelectuais, actividades profissionais, cores e raças...
Em comum têm apenas uma coisa: foram ou são agredidas por seus maridos ou namorados, pais ou padrastos de seus filhos... Escolheram esses homens para compartilhar a vida, formar uma família, dividir alegrias e tristezas, lutar com eles por uma vida melhor... Acreditaram que o amor que sentiam e dedicavam a eles os ajudariam a mudar... A cada dia, após uma briga ou agressão, um pedido de desculpas e a promessa de que aquilo não mais aconteceria, reacendia a esperança... Até o dia em que descobrem que as esperanças foram jogadas ao vento... O cenário interno é de pós-guerra... Não há mais nada, a não ser um sentimento de destruição, medo, vergonha, marcas irreversíveis no corpo e na alma e uma dor profunda, que leva tempo, muito tempo para acabar... Isso sem falar nas que morreram, vítimas das agressões e nos filhos que ficaram sem mães e pais que ficaram sem suas filhas...
Infelizmente os jornais quase que diariamente dão esse tipo de notícia. E muitos de nós ouvimos e pouco nos comovemos ou paramos para pensar na gravidade do assunto.
Por mais terrível que pareça, ainda hoje não é raro ouvirmos algumas pessoas dizendo que as mulheres gostam de apanhar, ou provocam seus maridos e por isso são tratadas dessa forma ou ainda que merecem apanhar, pois não fazem nada para mudar essa situação.
Esse deboche é tão agressivo quanto a atitude agressiva desses homens para com suas mulheres. Comentários desse tipo deveriam, sim, nos causar indignação, pois revelam ignorância e insensibilidade frente a uma terrível dor.
Outra forma de agressão é o pouco investimento em recursos para o amparo dessas mulheres, tais como abrigos, acompanhamento psicológico para toda a família, agilização dos processos, etc.
E como se tudo isso não bastasse, a agressão masculina dirigida às suas companheiras é banalizada, pois costuma ser vista como "briga de casal" e segundo o ditado popular, "em briga de marido e mulher não se mete a colher". Aqui estamos diante de uma terrível distorção, pois agressão física ou verbal, palavras de baixo calão e situação de humilhação são casos de polícia e, por vezes, de saúde pública e quem os presenciar deve se meter sim!
É natural que existam brigas e conflitos em todas as relações. O que não é natural é quando apenas uma das partes exerce seu poder de forma autoritária, impossibilitando o outro de exercer o seu direito de expressão. E é essa a dinâmica que se estabelece em casais cujas mulheres sofrem violência.
Em geral, o homem intimida a mulher através da força física e das ameaças de agressão aos filhos. As que dependem financeiramente de seus companheiros ainda se vêem reféns da ameaça de ver sua família passar por privações, caso reajam às atitudes violentas do marido.
Quando começam as agressões, a grande maioria das mulheres acredita se tratar de episódios isolados e quanto mais passiva for a sua atitude, quanto menos denunciar e mais esconder, mais frequentes e violentos eles costumam se tornar.
Pronto! Está estabelecida a relação de submissão, que vai minando a força da mulher, comprometendo sua auto-estima, de forma que, a cada agressão, menos reconheça sua própria força e suas capacidades para sair da situação em que se encontra. Atribui, cada vez mais, um imenso poder ao agressor e passa a ser acompanhada de um medo constante de falar, emitir opiniões, manifestar desejos ou sentimentos. Como também acha que pode controlar os destemperos do marido passa a evitar situações que acredita serem desencadeadoras de sua agressividade. Por exemplo, se ele gosta de silêncio, não deixa as crianças fazerem barulho; se reclama da bagunça da casa, procura manter tudo em ordem; se não sabe esperar, atende de pronto os seus pedidos e assim por diante.
Como resultado, recolhe-se e esconde as agressões sofridas, não apenas em função do medo, mas, especialmente pela vergonha que sente por ser agredida. E acaba por viver de forma muito solitária todo esse horror.
Contudo, fico me perguntando: Quem deve ter vergonha? A mulher que foi agredida, ou o homem que covardemente impõe à sua mulher e filhos um clima de terror? Certamente ele deveria se envergonhar e reflectir sobre suas atitudes, pois dessa forma poderia buscar ajuda e compreender o que o leva a agir dessa maneira.
Gostaria aqui de fazer um parêntese para rapidamente dirigir o olhar para a questão do masculino.
Certamente, não há justificativa para tais atitudes, entretanto alguns pontos devem ser levados em conta. O agressor também é vítima de si mesmo, uma vez que não consegue controlar sua agressividade, não sabe o que fazer com suas emoções, fragilidades e frustrações (inevitáveis na vida de qualquer um de nós). Em geral agridem, porque não acessam os reais sentimentos vividos em determinadas situações, então, reagem agressivamente. Muitos aprenderam que, para exercer sua masculinidade devem ser brutos e autoritários, mas no fundo, toda essa arrogância e prepotência podem estar a serviço de esconder, em seus recônditos mais profundos, dores, inseguranças, humilhações vividas, maus-tratos...
O homem que agride também precisa de ajuda e acompanhamento. Em primeiro lugar, porque representa um perigo real para os que estão ao seu redor, principalmente para a sua família e mais especificamente para a companheira. E segundo, mas não menos importante, pela necessidade de olhar para si mesmo e buscar o caminho do crescimento. Muitos desses homens acabam por ter uma vida infeliz ou acabam com a própria vida. Perdem a família, a mulher a quem amam, o amor e o respeito dos filhos e, em casos extremos, perdem sua liberdade, pois acabam presos por chegar às últimas consequências.
Bem, voltando às mulheres, é preciso que levem a sério os riscos que correm e busquem ajuda o mais rápido possível. Mulheres agredidas tendem a achar que não acontecerá nada pior e que a situação está sob controlo. Entretanto é preciso ter cuidado, pois essa é uma falsa impressão. Procurar todos os recursos, tais como a protecção de algum membro da família ou de amigos, buscar ajuda psicológica, orientação jurídica e assistência social pode ser a melhor saída.
Superar o medo e a vergonha é uma situação muito difícil, mas denunciar e expor a situação é a única saída possível para a grande maioria das mulheres nessa condição. Certamente, ao olharem para dentro de si mesmas, perceberão o esfacelameto de suas personalidade, mas é preciso acreditar que o tempo é um grande aliado para a reconstrução da vida e que todos os recursos necessários estão lá, dentro de si mesmas. Certamente, com ajuda psicoterapêutica será possível descobrir, antes de tudo, a imensa força que existe dentro de si, pois é preciso ser muito forte para suportar uma situação de violência.
Esse é, sem dúvida, o melhor caminho para que potenciais, qualidades, aspectos criativos, desejos, capacidade de tomar decisões e amor-próprio desabrochem e floresçam, possibilitando, assim, que o brilho do sorriso, o respeito e a liberdade voltem a fazer parte de suas vidas.
Um abraço enorme do vosso em Cristo, Jaílson Frederico
Por: Jaílson Frederico, (na foto) estudante do 3ºano de Psicologia Clínica em São Vicente
Em comum têm apenas uma coisa: foram ou são agredidas por seus maridos ou namorados, pais ou padrastos de seus filhos... Escolheram esses homens para compartilhar a vida, formar uma família, dividir alegrias e tristezas, lutar com eles por uma vida melhor... Acreditaram que o amor que sentiam e dedicavam a eles os ajudariam a mudar... A cada dia, após uma briga ou agressão, um pedido de desculpas e a promessa de que aquilo não mais aconteceria, reacendia a esperança... Até o dia em que descobrem que as esperanças foram jogadas ao vento... O cenário interno é de pós-guerra... Não há mais nada, a não ser um sentimento de destruição, medo, vergonha, marcas irreversíveis no corpo e na alma e uma dor profunda, que leva tempo, muito tempo para acabar... Isso sem falar nas que morreram, vítimas das agressões e nos filhos que ficaram sem mães e pais que ficaram sem suas filhas...
Infelizmente os jornais quase que diariamente dão esse tipo de notícia. E muitos de nós ouvimos e pouco nos comovemos ou paramos para pensar na gravidade do assunto.
Por mais terrível que pareça, ainda hoje não é raro ouvirmos algumas pessoas dizendo que as mulheres gostam de apanhar, ou provocam seus maridos e por isso são tratadas dessa forma ou ainda que merecem apanhar, pois não fazem nada para mudar essa situação.
Esse deboche é tão agressivo quanto a atitude agressiva desses homens para com suas mulheres. Comentários desse tipo deveriam, sim, nos causar indignação, pois revelam ignorância e insensibilidade frente a uma terrível dor.
Outra forma de agressão é o pouco investimento em recursos para o amparo dessas mulheres, tais como abrigos, acompanhamento psicológico para toda a família, agilização dos processos, etc.
E como se tudo isso não bastasse, a agressão masculina dirigida às suas companheiras é banalizada, pois costuma ser vista como "briga de casal" e segundo o ditado popular, "em briga de marido e mulher não se mete a colher". Aqui estamos diante de uma terrível distorção, pois agressão física ou verbal, palavras de baixo calão e situação de humilhação são casos de polícia e, por vezes, de saúde pública e quem os presenciar deve se meter sim!
É natural que existam brigas e conflitos em todas as relações. O que não é natural é quando apenas uma das partes exerce seu poder de forma autoritária, impossibilitando o outro de exercer o seu direito de expressão. E é essa a dinâmica que se estabelece em casais cujas mulheres sofrem violência.
Em geral, o homem intimida a mulher através da força física e das ameaças de agressão aos filhos. As que dependem financeiramente de seus companheiros ainda se vêem reféns da ameaça de ver sua família passar por privações, caso reajam às atitudes violentas do marido.
Quando começam as agressões, a grande maioria das mulheres acredita se tratar de episódios isolados e quanto mais passiva for a sua atitude, quanto menos denunciar e mais esconder, mais frequentes e violentos eles costumam se tornar.
Pronto! Está estabelecida a relação de submissão, que vai minando a força da mulher, comprometendo sua auto-estima, de forma que, a cada agressão, menos reconheça sua própria força e suas capacidades para sair da situação em que se encontra. Atribui, cada vez mais, um imenso poder ao agressor e passa a ser acompanhada de um medo constante de falar, emitir opiniões, manifestar desejos ou sentimentos. Como também acha que pode controlar os destemperos do marido passa a evitar situações que acredita serem desencadeadoras de sua agressividade. Por exemplo, se ele gosta de silêncio, não deixa as crianças fazerem barulho; se reclama da bagunça da casa, procura manter tudo em ordem; se não sabe esperar, atende de pronto os seus pedidos e assim por diante.
Como resultado, recolhe-se e esconde as agressões sofridas, não apenas em função do medo, mas, especialmente pela vergonha que sente por ser agredida. E acaba por viver de forma muito solitária todo esse horror.
Contudo, fico me perguntando: Quem deve ter vergonha? A mulher que foi agredida, ou o homem que covardemente impõe à sua mulher e filhos um clima de terror? Certamente ele deveria se envergonhar e reflectir sobre suas atitudes, pois dessa forma poderia buscar ajuda e compreender o que o leva a agir dessa maneira.
Gostaria aqui de fazer um parêntese para rapidamente dirigir o olhar para a questão do masculino.
Certamente, não há justificativa para tais atitudes, entretanto alguns pontos devem ser levados em conta. O agressor também é vítima de si mesmo, uma vez que não consegue controlar sua agressividade, não sabe o que fazer com suas emoções, fragilidades e frustrações (inevitáveis na vida de qualquer um de nós). Em geral agridem, porque não acessam os reais sentimentos vividos em determinadas situações, então, reagem agressivamente. Muitos aprenderam que, para exercer sua masculinidade devem ser brutos e autoritários, mas no fundo, toda essa arrogância e prepotência podem estar a serviço de esconder, em seus recônditos mais profundos, dores, inseguranças, humilhações vividas, maus-tratos...
O homem que agride também precisa de ajuda e acompanhamento. Em primeiro lugar, porque representa um perigo real para os que estão ao seu redor, principalmente para a sua família e mais especificamente para a companheira. E segundo, mas não menos importante, pela necessidade de olhar para si mesmo e buscar o caminho do crescimento. Muitos desses homens acabam por ter uma vida infeliz ou acabam com a própria vida. Perdem a família, a mulher a quem amam, o amor e o respeito dos filhos e, em casos extremos, perdem sua liberdade, pois acabam presos por chegar às últimas consequências.
Bem, voltando às mulheres, é preciso que levem a sério os riscos que correm e busquem ajuda o mais rápido possível. Mulheres agredidas tendem a achar que não acontecerá nada pior e que a situação está sob controlo. Entretanto é preciso ter cuidado, pois essa é uma falsa impressão. Procurar todos os recursos, tais como a protecção de algum membro da família ou de amigos, buscar ajuda psicológica, orientação jurídica e assistência social pode ser a melhor saída.
Superar o medo e a vergonha é uma situação muito difícil, mas denunciar e expor a situação é a única saída possível para a grande maioria das mulheres nessa condição. Certamente, ao olharem para dentro de si mesmas, perceberão o esfacelameto de suas personalidade, mas é preciso acreditar que o tempo é um grande aliado para a reconstrução da vida e que todos os recursos necessários estão lá, dentro de si mesmas. Certamente, com ajuda psicoterapêutica será possível descobrir, antes de tudo, a imensa força que existe dentro de si, pois é preciso ser muito forte para suportar uma situação de violência.
Esse é, sem dúvida, o melhor caminho para que potenciais, qualidades, aspectos criativos, desejos, capacidade de tomar decisões e amor-próprio desabrochem e floresçam, possibilitando, assim, que o brilho do sorriso, o respeito e a liberdade voltem a fazer parte de suas vidas.
Um abraço enorme do vosso em Cristo, Jaílson Frederico
Por: Jaílson Frederico, (na foto) estudante do 3ºano de Psicologia Clínica em São Vicente
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