O mundo volta a abrir o livro para recordar uma das suas maiores vergonhas. O muro de Berlim caiu há 20 anos. Todas as manchetes de hoje não poderiam ser outras. Fazem alusão ao antes e ao depois do desaparecimento do muro de Berlim, se é que alguma vez, realmente, desapareceu. Fisicamente todos o vimos a cair, mas na cabeça de alguns poucos continua intacto e inabalável.
O pior muro não é aquele que Stalin decidiu erigir pondo um bloqueio total contra a cidade em represália ao Plano Marshall, que visava promover a recuperação económica da Europa destroçada pela guerra. O pior é aquele que está dentro da cabeça de alguns. Estes não caíram e tendem a não cair.
Só assim se explica que homens aparentando serem de juízo perfeito, teimam em manter lixos e viveiros de mosquitos em suas casas e propriedades. A campanha de limpeza do último fim-de-semana acabou por aflorar a existência desses muros.
Quando todos pensávamos que estamos em plena idade das luzes, eis que aparecem alguns, felizmente poucos, a demonstrarem com a sua atitude que estão a viver em clara idade da pedra. Estes teimam em continuar a ter em seus quintais o porco que era suposto estar no chiqueiro. Continuam a aparecer em passeatas com as suas vacas nas avenidas desta cidade capital.
Não deveriam os que fazem a opinião aproveitar a efeméride da queda do muro de Berlim para também denunciar a vergonha desses muros na cabeça de alguns dos nossos patrícios? Porque, na verdade, muro é o que não tem faltado cá no nosso burgo.
São muros para todos os gostos, desde a má-criação, selvajaria e conduta animalesca. Esses muros, apesar de todos sabermos da sua existência, preferimos fechar os olhos a denunciá-las. Escolhemos ficar acomodados e sempre com a maior diplomacia possível para não corrermos o risco de arranjar sarna para coçar ou sofrer algum rombo politico.
Um desses da idade da pedra abre a boca e deixa sair. Estamos lá ouvindo tudo, mas fazendo-se de surdos. Vem alguém e deita lixo diante da nossa barbela e fingimos que estamos concentrados em qualquer outra coisa. Há também, com toda a certeza, muros na cabeça dos que dizem ser da era das luzes. Só assim se justifica tanta cegueira e hipocrisia. Não poucas vezes, os próprios deputados que deveriam pautar pelo exemplo, em secção plenária da Assembleia Nacional, com a Rádio de Cabo Verde em directo, saem do cerco e começam com o despautério. É uma vergonha nacional o que alguns dos ditos dignos representantes do povo, de fato e gravata, dizem ao microfone da Rádio na casa parlamentar. É lá que os muros precisam começar a cair. Depois, é o efeito dominó.
A sociedade parece estar anestesiada, importando mais com o seu pão-nosso que com questões outras.
Há muros e muros por aí. Em todos os lados deparamos com muros.
Precisamos todos, cada um com a sua picareta, trazer abaixo os muros que ainda existem na sociedade, igreja, família e na nossa própria cabeça.
Se o muro de Berlim caiu, os nossos também podem cair. O X da questão é saber como e quando.
É ou não é?
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