Várzea significa campina verdejante ou planície, mas hoje as cores da Várzea da Companhia são outras: A cor do vazio do verde, apenas salpicado por algumas poucas acácias americanas, resistindo ao homem e à bruma seca, pinta o quadro deste bairro.
Na parte velha do bairro da Várzea (incluindo a zona da «Floresta» e a Várzea acima) a cor da miséria e da desolação, tingem a sua faceta socio-económica. Popularmente canta-se que as ilhas do nosso país «Ka ta bóia». A Várzea da Companhia, ainda quando chove «ta bóia» sim!
Casas de pedras soltas e barro, outras de blocos de cimento que surgem literalmente da noite para o dia, construídas nos cursos dos caminhos da água pluvial, desafiam perigosamente a própria natureza (suspiros!). Sim, algumas casas construídas abaixo do nível da água que desce das encostas quando chove, faz a Várzea «boiar».Crianças defecando na via pública e alguns adultos fazendo de espaços públicos sua santina e retrete, tudo isso nas traseiras do Palácio do Governo, construído pelos chineses, transforma a parte velha da Várzea da Companhia, num dos lugres, onde realmente a Cidade da Praia, esconde o que o turista não pode saber e fotografar. A rua chamada São Bento, não dignifica nenhum santo, e sim convida ao pecado. Fuma-se até ao «corcotir» da «corcorota» do Base», chamado «Pedra». Prostitui-se para financiar a «Branca»(cocaína) e a maldita «Pedra».
Este bairro da nossa querida capital, tem-se constituído numa «zona de refúgio», para alguns que desgraçadamente vivem «ás avessas». Na noite, um tal de «Bóka bédju»-pistola arcaica de fabrico caseiro-quebra o silêncio, mandando bala perdida contra a atmosfera (suspiros).Que essas balas sejam desviadas para o inferno!
Estamos focando, tentando consegui-lo com olhar infra-profundo. Várzea da Companhia é um bairro lendário, um dos mais antigos da Cidade da Praia. É um dos berços da Tabanka, uma manifestação sincrética (misturando simbolismo pagão e elementos místicos da religião Católica Romana).
Procurando as minhas origens, descobri que a minha mãe nasceu neste bairro. O meu avô materno de nome Vicente Semedo, natural de Santa Catarina e a minha avó também materna, de quem o registo de nascimento da minha mãe não faz menção, viveram nesta comunidade. O bairro da Várzea ainda hoje, guarda memórias ancestrais, que continuam a marcar a consciência colectiva, passadas várias gerações.
A manifestação da Tabanka, onde o «grogue» faz das «suas», produz transe à luz do dia.O grupo cultural «Maria Kamporta», constituído por gente vivida e que caminha para o ocaso da vida, é um dos mais emblemáticos deste bairro.
Na euforia pós 1975, na «onda» da Independência nacional, surgiu o Grupo «Black Panters», quando eu, menino em Vila Nova, pelo continente africano, o original Black Panters opunha-se à colonização e ao Klu Klux Klan!
Também na Várzea da Companhia de hoje, ainda são patentes os marcos da idolatria. Alguns altares sincréticos, mudos, surdos, cegos…na entrada e no final da Várzea, ás portas do Cemitério Municipal, marcam a sua presença.
Plantado à beira mar, o lendário Estádio da Várzea, assistiu pela primeira vez a nossa Selecção nacional de futebol, a conquistar a taça Amílcar Cabral, e depois ao apuramento para as eliminatórias conjuntas do Mundial da Alemanha e para o Campeonato Africano das Nações no Egipto. Este Estádio também foi palco das cerimónias oficiais da Independência do nosso país.Ali muito pertinho, está o busto de Amílcar Cabral, aquele que é considerado, pelo menos até ao presente momento, o nosso herói nacional maior.
As primeiras construções para «desenrascar» neste bairro, constituem ainda hoje marcas de um povoado que surgiu do improviso, sem nenhuma planificação, portanto.Mudaram-se as épocas e os regimes, mas esses casebres sem W.C., sem arrojo, sem arejo, sem alegria…sem quase nada, da parte velha da Várzea ainda estão alí, à espera das boas vontades sérias, para uma intervenção revolucionária pela positiva, que definitivamente resgate este bairro de uma vez por todas; e a presente geração não pode adiar mais isso!
A Várzea famosa de Bobóchi, de Piroxo, de nha Sábo Tchôtchô, de D.Ritinha, de Djoy di Mamá, de Zé di nh'Ana, de Tchéka, de Mundinho…é também a Várzea da Gui di Tambra, de Pitó di Ferro Gaita», de Zé di Tchétcha, do Nunes, do Décio, da Djamila e da Susy di Sulita, da Lisa e da Aracy…das gentes do povo.
(…) O mítico Bobóchi, um homem gigante como os enaquins (ainda me lembro dele!), deu à Várzea, muitos triunfos no «Puxar cordas» entre bairros. O Centro Comunitário onde a Igreja do Nazareno chegou a se reunir para os cultos de Domingo, ostenta o nome de Bobóchi em homenagem póstuma. A Várzea da Companhia é um bairro de forte activismo desportivo, cultural, político-partidária, e também é um bairro de forte associativismo, sendo a Associação «Black Panters», sua agremiação com maior enraizamento. As pessoas da Várzea, na sua maioria, e por razões histórico-políticas são simpatizantes do PA.I.C.V.
Sendo um dos bairros mais antigos da nossa capital, emblemático, por aí também se situar o Cemitério Municipal ao longo de várias gerações de praienses, pode–se dizer(talvez com margem mínima de erro!) por variadas razões, e sobretudo por razões que tem a ver com as estórias dos vivos, que o pulsar cortante e compulsivo mais nítido e vibrante da Cidade da Praia Maria Pia se sente aí!
A Várzea da Companhia é sem dúvidas (pelo menos até agora!) um dos bairros praienses com maior índice de bares, tabernas, e lugares onde se vende outras drogas por cada rua!
Conclusão: Como Igreja, propomos um «nascer de novo» ás gentes da Várzea da Companhia. Este «nascer de novo», o qual o mestre religioso judeu Nicodemos experimentou, é a maior proposta para esta comunidade. Só este «nascer de novo», com Cristo, depois de sentir-se triste por causa da prática do pecado, confessar-se e receber a Jesus Cristo como Senhor e Salvador pessoal, poder-se-á então se libertar da escravatura do sincretismo religioso, da idolatria, das orgias e transes de toda espécie e de crendices que acorrentam.
(…) Sonhamos e acreditamos num despertamento espiritual nessa comunidade vulnerável e maltratada da Praia Maria Pia. Missão integral, levando a Palavra e o pão, com Projectos de Promoção Pessoal e Social, onde a formação profissional desempenhe um papel nuclear é, e será sempre um PLANO DE CAMPANHA ESTRUTURANTE E RESTAURADOR PARA O BAIRRO DA VÁRZEA DA COMPANHIA DA PRAIA MARIA PIA, CAPITAL DA REPÚBLICA DE CABO VERDE!
DAQUI DE BAURU, SÃO PAULO/BRASIL, CONTINUAMOS ORANDO PELA NOSSA EMBLEMÁTICA COMUNIDADE DA VÁRZEA DA COMPANHIA, onde pastoreamos por cinco anos .
Por: NATANIEL SEMEDO DA SILVA/SÃO PAULO - BRASIL
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