Lembrem dos seus primeiros líderes espirituais, que anunciaram a mensagem de Deus a vocês. Pensem como eles viveram e morreram e imitem a fé que eles tinham” - Hebreus 13.7
John Piper usou o versículo acima para introduzir seu bom livro, “O Sorriso Escondido de DEUS”, que ganhei ontem de um querido amigo. Visitando hoje o conceituado blog do Rev. José Heleno Pereira, soube do aniversário ontem de meu saudoso pastor.
Sou devedor ao Sr. Gilberto. Ele me pastoreou na adolescência e início da juventude. Tornou-se um modelo inspirador. Quando cheguei para cursar o Seminário, meu amigo e compadre Gabriel do Rosário, atacou: “Estás a falar como Sr. Gilberto”. Recebi a crítica como um elogio e tanto!
Tive o privilégio de me privar um pouco com ele. A vida franciscana que levava foi sempre chocantemente inspiradora, sem jamais afetar sua alegria de servir a Deus. Repartia prontamente o pouco que tinha. Compartilhava sem possuir. Privava-se para abençoar outros.
Dona Clarisse compartilhava esse sentimento sem hesitação. Tinha o dom da multiplicação de pães. Sr. Gilberto chegava com visitas para almoço e para pernoitar sem aviso nenhum. Com sorriso acolhedor ela agasalhava a todos. Sinto água na boca do pudim de leite de Dona Clarisse. Nunca comi outro igual. Sempre que retornava a Vila ela me brindava com um que eu devorava sofregamente.
Sr. Gilberto não precisou de carro para fazer evangelismo e pastorear o disperso rebanho. A pé, de boleia (carona) ou no desconforto e risco de carrocerias de caminhões ia a Ribeira da Barca, Volta do Monte, Tarrafal, Achada Além, Cabeça Carreira, Pedra Barro, Picos, Orgãos. De quebra, levava o acordeão às costas.
De dentro e de fora da igreja ele sempre foi muito respeitado. Adultos como meus avós, pais e tios o reverenciavam. Meu avô contava e recontava com orgulho o enfrentamento dele com o pároco da região, ainda de “saia”. Os jovens o viam com admiração e como exemplo: Jorge Maia, Antero Fontes, Naná, Lídia Monteiro, Ana Maria, Nanda e tantos outros.
Ainda o processo de autodeterminação estava ganhando contornos quando Sr. Gilberto, com a lucidez e coragem que lhe são peculiares, em plena Assembleia, levantou questão considerada subversiva: “Quando teremos uma voz cabo-verdiana no Concílio Missionário?”. Em outra ocasião questionou a visão missionária tacanha: “Por que não mandar um pastor cabo-verdiano como missionário para a vizinha e sedenta Dakar?”
Nossos natais eram uma festa. Tinha Coral com esmero de fazer inveja. As representações teatrais poderiam ser exibidas em qualquer cidade do mundo. Detalhe: todas originais e escritas por ele. Seria proveitoso para igrejas em qualquer canto do mundo se essas peças, encenadas para platéias singelas, fossem publicadas e representadas com recursos tecnológicos da modernidade.
Como esquecer a fluidez de sua oratória poética! Como esquecer a facilidade com que escrevia em prosa e verso! Como esquecer sua temática insistente sobre a missão integral do Evangelho, cuja discussão viria ganhar corpo anos depois!
Com ele aprendi um princípio de vida que tenho procurado aplicar: “Os ramalhetes devem ser dados em vida”. Receba Sr. Gilberto, este modesto ramalhete, pálido diante da grandeza de sua história de vida, como homenagem de quem foi alcançado por sua influência.
Por: J. Sergio Fortes
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