Inauguramos
mais um templo. Entidades públicas e privadas, amigos, pastores, irmãos,
familiares, assistiram à justa
homenagem. O acto transcendeu o momento, perpassando por gerações de
nazarenos de Santo Antão, a ilha que
recebeu o casal António e Gregória Gomes de Jesus, nos idos anos de 1930.
É uma
história tão fértil, de tanta fiel sementeira em solo rude, debaixo de opressão
feroz, mas que produziu frutos que o presente testemunha. Entre as várias
referências, as memórias registam que, António
Gomes de Jesus, chegou até à recôndita
localidade de Garça em 1933, num trajecto de mula, quando os acessos eram
precários e os recursos parcos.
Muitos
pagaram um grande preço no começo da Igreja. Significou perder empregos,
reputação, familiares, oportunidades de estudos para os filhos, acesso aos
melhores cuidados de saúde. E nunca
devemos esquecer estas coisas.
Que
hoje, cada nazareno, cada pastor, seja fiel em gratidão e serviço, ao passado de sacrifícios e com visão,
tenacidade e fé, viva para impactar esta
e as próximas gerações.
Fala-se
de crise generalizada, mas tenho por mim
que, quando a igreja for mais igreja, a
mudança desejada por Deus ocorrerá. O problema real tem sido uma igreja não comprometida com as causas do evangelho e da
santidade. Uma Igreja conformada, sacerdócio acomodado e sem foco no essencial,
falta generalizada de visão e paixão,
preguiça aguda, disponibilidade condicionada para o trabalho de Deus
quando escasseiam as verbas e perda de motivação quando não existem estímulos
materiais.
Percebe-se
um desejo de ser grande, sem passar pelo processo de crescimento, amor
frio, relacionamentos deslocados, uma tendência em enfatizar mais o acessório
em detrimento do principal, mais activismo, do que estudo da Palavra e Oração.
Mãos em oração, mas inactivas para o serviço, vozes que proclamam santidade, mas
práticas que empobrecem o reino, pés que não vão, povo que não proclama os tons
festivos da salvação. Queremos apenas parecer. Parecer estar de bem com Deus,
parecer estar de bem com o próximo, parecer estar a fazer o trabalho de Deus,
parecer ter a simpatia do povo.
Mas
será esta uma igreja relevante? Necessária? Luz do mundo e sal da terra? Não,
categoricamente não.
Nenhuma
instituição é como a igreja, ela é única por sua essência e pela prática. A
vida da igreja consiste em um organismo vivo e dinâmico que visa cada um dos
seus integrantes e por meio a glória do Senhor da Igreja. A igreja é única
porque fornece o contexto em que ocorre a cura substancial nas relações
inter-pessoais. É nela que pessoas de todas as idades, raças, sexos, culturas, formações,
chegam para viverem em plena harmonia, formando uma verdadeira família. Uma
igreja simples é uma comunidade de discípulos de Jesus que pratica o amor
dentro e fora da comunidade, promovendo a santidade, é um Povo chamado para
cumprir a grande comissão, como corpo de Cristo.
Cabo
Verde será de certeza melhor, se a Igreja se comprometer a ser mais igreja. Significa relacionamento com
Deus, relacionamentos inter-pessoais saudáveis, sair das quatro paredes ,
servir a comunidade.
O desafio é que a Igreja seja mais
igreja em 2012.
Rev. David Araújo
Fonte: ELO/Dezembro