20 de Novembro de 1915, nascia o meu pai, Álvaro Barbosa Andrade, em Cabeça de Carreira, Santa Catarina. Quando vim ao mundo ele tinha 48 anos e, portanto, não pude aprender com ele a nadar, como aconteceu com os meus irmãos Lidia e David, ou a jogar futebol, que ele tanto sabia, como me contaram alguns amigos dele. Por ser um defesa inultrapassável, ele ganhou a alcunha de "Tubarão".
Na minha adolescência, senti o peso da sua forte presença na educação e formação do meu carácter, mas quando regressei do exterior com o meu diploma ele já se tinha reformado. Olhando para trás, gostaria de ter compartilhado mais tempo com ele na infância, na adolescência e na juventude. Talvez porque, agora, procuro estar muito tempo com o meu filho Diego e ser parte das suas atividades.
Aqueles que nos conhecem, dizem que me pareço muito com o meu pai, tanto no físico, como em determinados aspectos da minha personalidade, o que para mim é um "orgulho". Gosto muito dele e tenho guardado algumas lembranças que me deixaram profundas marcas.
Nununo, como era conhecido pelos mais próximos, era o humor em pessoa. Para ele, o humor era um estilo de vida e não um simples momento alegre ou de contar anedotas.
A frontalidade era uma das suas principais características e nunca o vi mudar de opinião devido às transitórias circunstâncias da vida. Talvez o tenho feito - quem não o faz!!?? - mas a memória que tenho dele é de quem para o qual a palavra é mais importante do que a posição social, conta bancária ou pretensões.
Nununo sabia entender as pessoas. Às vezes a paciência não abundava - que o digam a Lidia, o David e a suas pernas -, mas no meu caso, talvez devido à idade avançada, encontrei nele alguém que me entendia, embora não estivesse sempre de acordo. Muitas vezes batemos de frente em conversas sobre política, futebol e religião.
Por exemplo, engoliu a seco a minha opção pelo jornalismo e não poucas vezes me pediu que tivesse cuidado, principalmente na cobertura de assuntos políticos. Quando critiquei a invasão do Panamá pelos Estados Unidos, ele ouviu da boca do cônsul americano que eu nunca entraria no país. Outra vez, mostrou-se preocupado, mas nada mais. A foto acima foi tirada com ele e minha mãe nos Estados Unidos em 1993.
Os seus colegas, principalmente os mais novos, sempre encontraram nele um amigo, um conselheiro. As conversas eram longas, mas produtivas, segundo me contaram alguns.
Poderia escrever páginas e páginas de recordações do meu pai, mas vou deixar aqui apenas duas referências que considero marcantes. Em Outubro de 1999, eu estava em Moçambique e ele adoeceu. Nesse período comentou com um familiar: "o Alvarito não vem todos os dias visitar-me, mas sei que posso chamá-lo a qualquer momento".
O segundo episódio aconteceu no seu último ano de vida. Depois de uma discussão, ele me acusou sem razão. Quando à tarde fui apanhá-lo na pracinha para levá-lo para a casa, a primeira coisa que fez foi pedir-me desculpas. Aos 83 anos! Um pai pedir desculpas ao filho??!!
Isso não é para qualquer um. Só para homens de H grande, apesar das suas falhas, como todo ser humano.
Por isso, Deus lhe concedeu aquele que talvez foi o seu último pedido. No dia 31 de Dezembro de 1999, disse que tinha terminado a sua missão aqui na terra e que se Deus quisesse podia levá-lo em paz. Três dias depois ele falecia, sem chorar nem sofrer.
Chorei pouco com a partida dele porque sabia que ele estava feliz onde se encontrava. Mas depois de tantos anos tenho saudades do pai! E sinto falta das suas orações, sempre às 3 da manhã!