Uma leitura de Lun Yu (traduzido como Os Analectos) de Kung Fu-tzu, mais conhecido no ocidente na forma latinizada “Confucius” (Confúcio), ajuda a responder essa questão.
De um modo geral, o egoísmo e a ignorância transformaram a condição humana em uma discórdia social. Uma situação deprimente que, em síntese, pode ser descrita assim: relação humana desfigurada pelo conflito; dirigentes governam em benefício próprio; pessoas comum padecem sob encargos injustos e comportamento social em geral é determinado pelo egoísmo e pela ganância. Cinco motivos, de acordo com Confúcio, explicam essa situação: apego ao lucro; falta do respeito da devoção filial; falta de confiança na ligação entre a palavra e a ação; ignorância e ausência da benevolência nos assuntos humanos.
A forte preocupação com o resultado de uma ação particular em relação ao “eu”, determina o comportamento humano comum. “O que vou obter desta ação?”. Essa é uma pergunta habitual que as pessoas fazem e, que, no fundo, indica que o objetivo comum da ação é egoísta. Ela costuma ser executada para aumentar a riqueza ou o poder que se tem. É uma ação guiada por lucro que, de acordo com Confúcio (IV. 12), “vai gerar muita má vontade”. Fazer do salário o único objeto, lembra Confúcio (XIV. 1), é vergonhoso. Pautar a ação humana no lucro é pretender-se egoisticamente cuidar apenas de si mesmo.
A diferença entre aquilo que se diz e aquilo que se faz é outro problema. Sem um vínculo direto entre palavra e ação, não há base para a confiança, já que esta se sustenta nas premissas de que o que foi dito será feito. Sem essa confiança básica, as pessoas perdem a capacidade de se mostrar com sinceridade e de confiar nos outros com algum grau de certeza. Assim, como disse Confúcio (V.10), “Eu costumava confiar nas ações de um homem depois de ouvir suas palavras. Agora, ao ouvir as palavras de um homem, vou observar suas ações”.
O homem precisa aprender agir com retidão, uma ação que transcende toda situação social particular. É preciso fazer o que é certo simplesmente porque é certo, e não por quaisquer outras razoes. Agir com vistas a fazer o que certo, em vez do que é lucrativo, pode impedir as frustrações. Mesmo que os esforços de alguém não sejam reconhecidos, o seguimento do princípio do “agir desinteressado” faz com que esse alguém jamais fique descontente. E mais, o princípio do “agir desinteressado” motiva a continuar agindo em favor da retidão num mundo que pouco a aprecia. Assim, o importante é o cultivo da retidão, não o reconhecimento social.
José João Neves Barbosa Vicente
Filósofo, professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e Editor da GRIOT – Revista de Filosofia.
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