DE NADA TEMOS FALTA
Vence a passagem do tempo a figura do salmo 34:10 “ os filhos dos leões necessitam e sofrem fome, mas aqueles que buscam ao Senhor de nada tem falta”.
Íamos apressados quando um velho simpático se dirigiu a nós. Suas primeiras palavras pareciam delicada introdução de um pedido. Procuramos alguma moeda, na convicção de que o nosso interlocutor daria por finda a conversa, logo que recebesse uma ajuda material. Juízo errado. A conversa terminou assim: “graças a Deus, nada me tem faltado”. Não demorou que soubéssemos tratar-se de um homem materialmente pobre, mas filho do Rei do Universo.
O materialismo moderno tem gerado muitos leões insaciáveis. As muitas necessidades do homem estão longe de poderem ser comparadas às sua enormes ambições. Enquanto existe uma coisa no mundo que não possa chamar seu, sofre falta.
Nem sempre, porém, é a ambição o que se tem de questionar. A nível material, necessidades de primeira ordem, ampliadas pela óptica dos custos, podem levar-nos a esquecer o que temos. O “nada me tem faltado” do pobre velho fez-me lembrar as vezes em que me gastei com preocupações sobre o que senti serem faltas ameaçadores.
E eram passageiras.
A olhos naturais, a figura usada pelo salmista parece ser de admitir apenas a crianças sem noção das proibições da vida, ou a loucos que vêem o avesso do mundo, bem diferente e melhor do que o mundo real. Qualquer cuidado a garantir a validade da afirmação do salmista fica todo dispensado pelo segredo da própria afirmação.
Primeiramente por esclarecer que os que de nada tem falta são aqueles que se acham ocupados em buscar outros valores em outras regiões. Tudo que se considera indispensável no plano humano, ocupa lugar secundário na mente do salmista: o equilíbrio orgânico e a segurança física, por exemplo.
Todo o homem vive em função daquilo de que mais se ocupa espiritual ou fisicamente. Para o salmista buscar ao Senhor era o mesmo que conhece-lo e os mais caros segredos da felicidade.
Em segundo lugar ele deixa claro que não é o capricho ou a paixão que garantem a importância de tal busca, mas o próprio objecto dela - o Senhor. Nele estão escondidos os tesouros que cobrem as mais profundas necessidades do homem: as espirituais que muito pretendem ignorar, ainda que mais evidentes a quem queira deter-se em considerar os comportamentos humanos.
O mundo precisa de tais que”nada tendo, possuem tudo” em tesouro aberto e activo - que busca sempre para sempre poder dar.
Por Eugénio Rosa Duarte
“in Epístola – Setembro/1984”
Vence a passagem do tempo a figura do salmo 34:10 “ os filhos dos leões necessitam e sofrem fome, mas aqueles que buscam ao Senhor de nada tem falta”.
Íamos apressados quando um velho simpático se dirigiu a nós. Suas primeiras palavras pareciam delicada introdução de um pedido. Procuramos alguma moeda, na convicção de que o nosso interlocutor daria por finda a conversa, logo que recebesse uma ajuda material. Juízo errado. A conversa terminou assim: “graças a Deus, nada me tem faltado”. Não demorou que soubéssemos tratar-se de um homem materialmente pobre, mas filho do Rei do Universo.
O materialismo moderno tem gerado muitos leões insaciáveis. As muitas necessidades do homem estão longe de poderem ser comparadas às sua enormes ambições. Enquanto existe uma coisa no mundo que não possa chamar seu, sofre falta.
Nem sempre, porém, é a ambição o que se tem de questionar. A nível material, necessidades de primeira ordem, ampliadas pela óptica dos custos, podem levar-nos a esquecer o que temos. O “nada me tem faltado” do pobre velho fez-me lembrar as vezes em que me gastei com preocupações sobre o que senti serem faltas ameaçadores.
E eram passageiras.
A olhos naturais, a figura usada pelo salmista parece ser de admitir apenas a crianças sem noção das proibições da vida, ou a loucos que vêem o avesso do mundo, bem diferente e melhor do que o mundo real. Qualquer cuidado a garantir a validade da afirmação do salmista fica todo dispensado pelo segredo da própria afirmação.
Primeiramente por esclarecer que os que de nada tem falta são aqueles que se acham ocupados em buscar outros valores em outras regiões. Tudo que se considera indispensável no plano humano, ocupa lugar secundário na mente do salmista: o equilíbrio orgânico e a segurança física, por exemplo.
Todo o homem vive em função daquilo de que mais se ocupa espiritual ou fisicamente. Para o salmista buscar ao Senhor era o mesmo que conhece-lo e os mais caros segredos da felicidade.
Em segundo lugar ele deixa claro que não é o capricho ou a paixão que garantem a importância de tal busca, mas o próprio objecto dela - o Senhor. Nele estão escondidos os tesouros que cobrem as mais profundas necessidades do homem: as espirituais que muito pretendem ignorar, ainda que mais evidentes a quem queira deter-se em considerar os comportamentos humanos.
O mundo precisa de tais que”nada tendo, possuem tudo” em tesouro aberto e activo - que busca sempre para sempre poder dar.
Por Eugénio Rosa Duarte
“in Epístola – Setembro/1984”
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