FACHADAS
«A verdadeira religião é a vida que levamos e não o credo que professamos» – Louis Nizer
Vivo na Cidade da Praia, meu torrão-natal, urbe onde, apesar de todos os seus constrangimentos e complicações, gosto de viver. Contudo, de uns tempos para cá, passei a ter com esta Cidade uma relação conturbada, por vê-la transformada na antítese da Praia da minha meninice e da minha juventude. Aquela Cidade ordeira, asseada, habitada por gente de boa índole, respeitadora e amigável, transformou-se numa amálgama de tudo quanto seja feio, inestético e perturbador do meu bem-estar.
Uma das imagens de marca desta Praia feia são as fachadas das casas, as quais, em sua larga maioria, ainda se encontram desprovidas de reboque e de pintura, contribuindo para esta Urbe ser cinzenta, contrastando com o interior das habitações, decorado com televisores plasma de famosas marcas, sofás de pele de excelente qualidade, cortinas de tecidos finos, chão com mosaicos (nalguns casos com mármore) e o resto do mobiliário de fino recorte, em mogno ou mesmo em faia! Ou seja, as pessoas rodeiam-se de um interessante e legítimo conforto no interior de suas casas, mas da porta para fora, entra-se no terreno de ninguém. Como as fachadas das casas representam apenas o exterior, elas não entram no rol das preocupações dos proprietários. Questões ligadas à pintura do exterior com reflexos ao ambiente geral da Cidade, jamais entram no cogitar das pessoas. Bem, pelo menos no de algumas pessoas (infelizmente, ainda muitas)!
Entretanto, existe um domínio em que o exterior não pode ser a preocupação principal do nosso viver, e esse domínio é a vida cristã. Nesta, as fachadas não podem ocupar lugar cimeiro, embora tenhamos, também, de ter em atenção nossas atitudes externas, para que elas não sejam motivo de escândalo e pedras de tropeço! Fachadas materializadas em pretensa “espiritualidade, mas nada condizentes com o exemplo diário em casa, no trabalho e na comunidade local, de pouco ou nada valem! De nada serve estarmo-nos com “santices de trazer por casa, quando a verdadeira santidade se encontra de nós arredada! Onde está o ganho quando simplesmente se representa uma personagem “santa” nas igrejas, mas é-se antipático e sisudo na sociedade?! Bastas vezes, o mesmo “actor” cruza com os demais (crentes e descrentes) nas ruas das nossas cidades, como se não os conhecesse, numa atitude que contrasta, abissalmente, com a “personagem” teatralizada nos santuários! Sei que cada de nós conhece pessoas assim!
Assim, é mister que reconheçamos a necessidade de substituirmos fachadas piedosas por vidas autênticas; a beatice por atitudes proactivas que ajudem a comunidade, o lar, o local de trabalho e a igreja onde cada de um nós está inserido e a sisudez pelo sorriso franco, aberto, tolerante e amigo.
Está mais perto do Reino de Deus quem possui um coração limpo, logo um interior onde o Espírito Santo queira fazer seu habitat permanente, e mais longe aquele que ainda tira prazer em representações farisaicas. A Bíblia nos ensina que «O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca» - Lucas 6:45.
João Gomes
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