PERDÃO
"O fraco não consegue perdoar nunca. O perdão é o atributo do forte."- Mahatma Gandhi
Todos nós temos um conjunto de valores que constituem a nossa estrutura, e somos ciosos da sua inviolabilidade. Assim, quando alguém viola ou põe em causa aqueles valores, sentimo-nos defraudados, sendo a nossa reacção mais ou menos dura, conforme for a hierarquia do elemento violado. Por exemplo, para mim é mais fácil perdoar a falta de solidariedade de um amigo do que a difamação lançada por esse mesmo amigo em relação a algum dos meus progenitores. Outros perdoam mais facilmente uma traição do que a mera falta de cortesia.
Na verdade, perdoar não é fácil! Quando valores que consideramos parte da nossa idiossincrasia são devassados por outrem, ficamos quase sempre revoltados, levando-nos a tomar, normalmente, uma de duas decisões: “tirar satisfação” junto à pessoa em causa ou pôr a pessoa “de parte”, riscando-a do rol de gente por quem temos consideração. Não tapemos o sol com a peneira – perdoar é uma tarefa assaz exigente! Mas é, justamente, nesses momentos de dor, de traição, de desassossego e de revolta, sentimentos tanto mais intensos quanto mais intensa for a relação que tivermos com o violador, que somos chamados a mostrar nossa nobreza de carácter.
Obviamente, o primeiro passo para nós perdoarmos quem nos ofendeu, tem de ser dado pelo ofensor. Quem não reconhece o erro, não está, certamente, à espera de ser perdoado. Ninguém perdoa alguém que considera não ter praticado acção que mereça perdão. Esta é uma evidência à la palisse. E bastas vezes, reside aqui o cancro! Cometemos uma ofensa contra alguém, mas a nossa arrogância é tão grande que ficamos convencidos não se revestir a nossa acção, de nenhum desvalor. Se assim nos mantivermos, jamais daremos o passo rumo ao perdão da pessoa contra quem pecamos. Aprendamos com Karl Popper, um filósofo austríaco que nos deixou este ensinamento: «reconhecer um erro, é declarar que temos um erro a menos». Então, dispamo-nos das vestes do convencimento de que todas as nossas acções são boas, e reconheçamos as nossas ofensas contra os outros, as quais nem sempre são dolosas, sendo, bastas vezes, praticadas tão-somente com grosseira negligência.
Na posição de ofendidos, sejamos magnânimos! Lembremo-nos dos ensinamentos de Cristo que, falando com os seus discípulos lhes disse «Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe» - Lucas 17:3. Mas é preciso querer isso mesmo, e não fingir um pretenso gesto de tolerância, quando o ressentimento resiste, estoicamente, em nossos corações. O ressentimento, no dizer de Carrie Fisher, é como beber veneno e esperar que a outra pessoa morra. Mesmo os que andaram bem de perto de Cristo tinham problemas com o perdão. Pedro, tendo por certa a resposta (que era sete) em sua mente, perguntou a Cristo quantas vezes teria de perdoar ao seu irmão. Jesus, radical como sempre foi (e é) mandou multiplicar esse valor por 70 (setenta) – Mateus 18:22. Obviamente, não se trata de uma resposta matemática, pois se assim fosse, a partir da 500ª ofensa, teríamos o caminho livre para não perdoar. O nosso Salvador estava indicando ao discípulo que deveria estar sempre disponível para conceder o perdão.
Assim, sempre que fores ofendido, e tiveres a certeza do arrependimento do ofensor, e ele, de coração aberto, pedir teu perdão, perdoa-lhe, pois no dizer interessante de um pensador «perdoar é como libertar um prisioneiro e depois descobrir que o prisioneiro éramos nós». Deus vos abençoe!
João Gomes
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