- A Junta Geral e a Junta de Superintendentes Gerais da Igreja do Nazareno elegeram-no para o cargo de director regional para África em Fevereiro de 2006. Pode explicar-nos que funções lhe cabem a si?
A Igreja do Nazareno está organizada em seis regiões mundiais, sendo África uma delas. Cada região é liderada por um director regional que, em assuntos relacionados com a administração da igreja, a implementação e a supervisão de planos de acção, é assistido por uma equipa de directores sub-regionais em número igual ao dos campos existentes na região (no caso de África são sete) e em assuntos relacionados com a observância de princípios e normas eclesiásticas por um conselho consultivo.
- Como chegou a esse posto?
Servindo. O posto é de serviço. Decidi por uma vida de disponibilidade completa e obediência incondicional à vontade divina. Aprendi também a escutar a voz da igreja que, em sintonia com Deus, tem-me ajudado a estar ciente das minhas limitações assim como também dos valores cuja mordomia Deus me confia para benefício de meus irmãos e minhas irmãs em Cristo e da humanidade em geral.
- É a primeira vez na história da Igreja do Nazareno que um africano ocupa esse cargo. Que significado isso tem para si e para os africanos, em geral?
Uma igreja de mais de cem anos de existência, há muito devia ter um africano prestando este serviço. A sabedoria divina nos ensina que há um tempo determinado para tudo o que acontece debaixo do sol. Aceitei a responsabilidade com temor e tremor pois requer muito mais do que uma pessoa pode fazer sozinha. Eu não aceitaria o cargo não fosse a convicção de que temos uma grande equipa em África. Durante o acto de posse neste cargo um irmão sul-africano falou em representação do continente e pediu que neste exercício eu continuasse sendo a pessoa que ele conhece. Minha resposta foi que eu me comprometeria a ser a pessoa que Deus quer que eu seja.
Eu sou o que Deus quer e faz que eu seja. Durante os oito anos que precederam a minha eleição tive o privilégio de conhecer a igreja e os desafios que ele enfrenta em quatro dos sete campos da região, abrangendo cerca de 30 países africanos e creio ser voz e parecer comum que este passo está iniciando um novo dia para a missão da igreja africana sob liderança africana numa igreja que acredita ser comissionada para uma tarefa global.
- Sendo o Dr. Eugénio Duarte originário de um país tão pequeno como Cabo Verde, num continente imenso como África, e natural de uma ilha também muito pequena, Brava, qual a satisfação que isso lhe traz?
O tamanho e as condições da nossa origem não importam quando vemos o mundo com olhos de Deus e acreditamos naquilo que Ele pode fazer com o mais pequeno dos seres. O Senhor Jesus usou a semente de mostarda para ilustrar o começo e as potencialidades do Reino que Ele veio estabelecer sobre a terra. Seu poder e nossa obediência constituem o segredo. Sinto-me honrado pela confiança da igreja e Deus me livre de a tomar e tratar com ânimo leve.
- Como é que um lusófono e cabo-verdiano trabalha num meio onde a maioria é anglófona, tendo em conta que a cultura e a mentalidade são diferentes?
Julgo que se refere às condições de vida e trabalho no local onde residimos. Minha família adaptou-se muito bem. Com efeito o país é conhecido como nação arco-íris que aprendeu a acolher e conviver com culturas de todo o mundo.
- Durante quanto tempo mais permanecerá no cargo e que objectivos pretende alcançar, tendo em conta o trabalho que fez até aqui?
Fui eleito em Fevereiro de 2006 para um termo de quatro anos. Se for reeleito e estiver convicto de que é vontade de Deus que continue neste serviço, servirei por mais do que um termo, mas não estou preso à presente função. Um dos grandes objectivos que esperamos alcançar com a ajuda e bênção de Deus é a mudança da mentalidade de dependência do exterior, não só em termos de recursos materiais como também de recursos humanos nas áreas de gestão e liderança. A igreja africana está descobrindo as suas grandes potencialidades e a liderança está investindo nisso com grande apoio da Igreja global. Queremos atingir um milhão de membros em plena comunhão até o fim de 2010, ter em cada nazareno um activo fazedor de discípulos semelhantes a Cristo e cada família Nazarena um viveiro de campeões de santidade.
- Do seu ponto de vista, como está implantado o cristianismo em África, continente onde o islamismo, por exemplo, tem muitos fiéis?
A abertura à mensagem e vida cristãs é impressionante. África é um continente desiludido com o Ocidente. Infelizmente, à vista de muitos o cristianismo é uma imposição da cultura ocidental. As igrejas estão apostando na formação de uma liderança africana esclarecida e convicta da universalidade do Evangelho. Enquanto a igreja depender do Ocidente ela será vista como uma importação e mesmo imposição. A busca de Deus que é expressa em todas as formas de religião tem de ser vista como algo humano que só o divino pode, por meios comuns, satisfazer. E o veículo que permite tal satisfação é a cultura e são os povos de África. A igreja tem de oferecer ao povo de África uma teologia relevante que responde a questões pessoais e comunais de gente comum com respeito à sua própria relação com Deus e com os outros.
- E como trabalham em África as igrejas cristãs e em particular a Igreja do Nazareno?
As igrejas cristãs com afinidade de doutrina e práticas estão ficando cada vez mais perto umas das outras. Várias formas de parceria estão sendo praticadas com sucesso em África. As diferenças são cada vez menos significantes e têm menos peso no modo como operamos no continente. Um grande número de igrejas, chamadas “indígenas”, continua distanciado de iniciativas de colaboração, devido ao seu profundo sincretismo, que acomoda quase tudo em formas biblicamente aberrantes de prática e adoração.
- Como cresce a Igreja do Nazareno em África?
No Corno de África, o crescimento da Igreja do Nazareno é fenomenal. O movimento de plantação de igrejas está atingindo níveis nunca vistos na história global da nossa denominação. Gente comum está fazendo um trabalho fora de comum sob inspiração pura e inequívoca de Deus. O mesmo está acontecendo no campo da África Ocidental e acredito que o movimento está se espalhando por todo o continente.
- Estando sedento do Evangelho, o povo africano não será também muitas vezes vítima de charlatães? Como distinguir os “lobos” dos “cordeiros?
Os mais incautos continuam sendo vítimas do engano de pessoas que ou não têm noção do gravíssimo mal de tentar confundir os negócios de Deus com os negócios do Homem ou simplesmente o fazem como resultado da rebeldia satânica. Não é fácil distinguir os lobos dos cordeiros, porque mudam constantemente as suas tácticas, vestes e jeito de fazer as coisas. O discernimento dos fiéis, no entanto, sempre acaba por desmascarar os falsos e pretensiosos. Só que, em muitos casos, são os danos perpetrados que abrem os olhos dos fiéis.
- Do seu ponto de vista, quais os maiores problemas de África e como podem ser solucionados?
O mal de África é o mal da humanidade, o pecado. A diferença entre África e outras partes do mundo está no facto de que o africano reconhecer o mal com o mesmo nível de inteligência e sabedoria do resto do mundo mas é muito mais lento em denunciá-lo. Consequentemente tardam muito a chegar respostas adequadas a desafios comuns
Entrevista por: Teresa Sofia Fortes
"in semanaonline"
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