Refletir sobre a “verdade” significa analisar algo comum entre os homens para descobrir seu alcance e seu sentido. A verdade é algo apaixonante, necessário e imprescindível. Ela é preferida até mesmo por aqueles que mentem. Para mentir é preciso querer a verdade. Ou seja, ninguém mente desejando ser visto como mentiroso, por isso, quando mente, diz que é verdade. Se não for assim, ele não poderia mentir.
A verdade é uma exigência de todos. Por toda parte existem indivíduos que querem enganar, mas ninguém que quer ser enganado. E mesmo aqueles dispostos a enganar, fazem de tudo, para serem percebidos como verdadeiros. Portanto, de um modo universal, pode-se afirmar que as pessoas amam a verdade. No entanto, amar a verdade não significa dizer que tudo o que se ama é verdade.
Um casal romântico e apaixonado, por exemplo, ao acreditar ter encontrado a pessoa que sempre sonhou, acredita, também, ser verdadeiro nela, tudo o que ele ama, esquecendo assim, que a verdade está naquilo que a pessoa é, e não naquilo que ele ama nela. É necessário, portanto, submeter o amor à verdade, não a verdade ao amor. Não acreditar que tudo o que se ama é verdadeiro, mas amar tudo o que se conhece.
É preciso atenção para não confundir desejos com realidade. Muitos amam sonhos, o outro fantasiado, a utopia, a religião. Mas não amam o real, o outro como ele é, a luta, o mundo. A verdade deve estar acima de tudo e, principalmente, acima do amor para que a lucidez e a coragem possam aparecer. Mas, se alguém quiser considerar verdadeiro tudo o que ama, não tem problema. Contanto que seja permitido aos outros que assim desejarem, viver para a verdade. Pois, amar a verdade é tudo. Não porque ela é amável, mas porque é a verdade. Algo que não pertence a nenhum lado, mas contém todos os lados.
Por: José João Neves Barbosa Vicente
Filósofo, professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e Editor da GRIOT – Revista de Filosofia.