Friday, April 8, 2011

DEVEMOS AJUDAR OS NECESSITADOS?

      Refletir sobre essa questão significa, essencialmente, debruçar sobre temas centrais da atualidade que envolvem debates sobre a riqueza e a pobreza.
      Pode parecer estranho, mas nem todos estão convencidos de que devemos ajudar os necessitados. Basta fazer uma revisão das literaturas existentes sobre temas relacionados às teorias morais e políticas, para encontrar argumentos fortes que sinalizam de forma contundente, de que não existe um dever de ajudar os necessitados.
Assim, contra o dever de ajudar os necessitados existem, basicamente, dois fundamentos. Um é baseado na ideia que concebe a moralidade como regras com as quais concordariam as “pessoas racionais e egoístas”. Partindo dessa ideia, muitos entendem que temos apenas o dever de não prejudicar os outros, não de ajudá-los. Aqui está fora da questão, por exemplo, a família e os amigos. Entende-se, portanto, a partir dai que as pessoas aceitariam o “dever” de não prejudicar uns aos outros, por “interesse racional”. O outro fundamento defendido seriamente por Nozick, em sua obra Anarchy, State, and Utopia, está alicerçado na ideia que admite, de forma categórica, que o direito natural da pessoa não permite que ela receba ajuda, apenas que ela não seja prejudicada .
É importante ressaltar que, não se interessar em ajudar os necessitados, não significa dizer que tal atitude é ou deve ser permitida moralmente. Se levarmos em consideração o fato de que temos o dever de não prejudicar os outros, precisamos entender que permitir que o indivíduo sofra ou morra por necessidade, significa, essencialmente, prejudicá-lo. É necessário frisar sempre que, no mundo, pessoas morrem todos os dias de causas evitáveis. O dever de não ajudar os necessitados não deve ser erguido como uma lei universal. Mesmo aqueles que defendem esse tipo de “dever” podem, um dia, precisar de ajuda. É necessário recusar qualquer teoria que nega o dever de ajudar os necessitados. Todos, na medida do possível, devem ajudar os necessitados e, ao mesmo tempo, lutar incessantemente contra as injustiças qu e produzem os necessitados.

José João Neves Barbosa Vicente
Filósofo, professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e Editor da GRIOT – Revista de Filosofia.

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