Desde cedo ouvi falar do Tio Eudo. Alto, de passadas largas, olhar profundo, grande jogador de futebol, de acordeão às costas, subindo e descendo as montanhas e vales das ilhas onde trabalhou como pastor. Mas também como crioulo fecundo: 13 filhos. Ainda criança soube que o Tio Eudo – a quem chamávamos de tio como todos os outros colegas do meu pai – era um homem de princípios, frontal e de uma profunda convicção cristã. Acostumado a vencer obstáculos, escutei várias estórias dele, desde pedir a Deus, num jogo de futebol, que ajudasse a equipa de cristãos a vencer os adversários, que não o eram; até não ter muita pachorra para fazer apelos no final das mensagens, limitando-se a dizer “acredite se quiser”. E este foi o título do livro que tive o prazer de ler, "Acredite se quiser", no qual ele relata histórias fantásticas que revelam a fé de um verdadeiro homem de Deus. Acredito em pessoas preparadas por Deus para determinadas obras e considero que o Tio Eudo foi uma delas; e dessas pessoas Deus cuida. Até ao fim, pois na recta derradeira da vida, com um câncer terminal, ele não sofreu as dores dos comuns dos mortais. Curioso é que apenas uma vez me encontrei frente-a-frente com o meu velho conhecido Tio Eudo. Foi em New Bedford, Estados Unidos, tempo apenas para um aperto de mãos e um abraço. Enquanto trabalhava em Miami, fiquei de o ligar para uma entrevista para a Rádio CVC, mas tal nunca aconteceu. Hoje, ele está na glória e nós ficamos com a imagem de um homem íntegro que venceu a batalha e que nos deixou um legado de fidelidade e tenacidade. Para mim, não foi determinante conhecê-lo em pessoa, mas sim o que ele deixou enquanto esteve aqui na terra. À tia Arlinda e filhos, muitos dos quais mantenho uma relação muito próxima, um beijo e um abraço. Frente à morte física de homens como o Tio Eudo não choramos, mas nos orgulhamos do que nos deram. Até lá, combatente.
Álvaro Ludgero Andrade
Praia, 23 de Julho de 2009
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