Monday, June 15, 2009

O DISCURSO DE UM BÊBADO


Entrou um vagabundo num bar, pedindo bebida. Foi atendido, e no ato de tomá-la, um jovem entre os presentes lhe disse: "Faça um discurso, é licor muito pobre que não desenvolve a língua do homem." O vagabundo tomou apressadamente a bebida, e quando começou a fazer efeito, dirigiu-se às pessoas ali presentes, erguendo-se com uma graça e dignidade que não puderam ocultar o seu desejo e seus farrapos.
"Meus senhores", disse, "contemplando a vocês esta noite, parece-me enfrentar o negro quadro da minha juventude. Este rosto desfigurado que vocês vêem foi tão limpo e são como o de vocês. Este corpo tremente e mutilado foi outrora galhardo e digno como é o seu.
"Tive também os meus amigos, um lar e boa posição. Tive uma esposa tão bela como o sonho de um artista, mas lancei a inapreciável pérola da sua honra e de seu respeito num copo de vinho, e, como Cleópatra, ao vê-la dissolver, a consumi na desgraçada bebida. Tive filhos belos e puros como a flor da primavera, mas os vi murchar debaixo da incandescente maldição de um pai bêbado.
"Tive um lar onde o amor acendia a chama sobre o altar e oficiava perante ele, porém apaguei aquele fogo santo e em seu lugar deixei trevas e desolação. Tive ambições e aspirações que subiam tão alto quanto a estrela da manhã, mas as extingui esquecendo-me delas. Sou agora um esposo sem esposa, pai sem filhos, vagabundo sem lar, um homem com todas as ambições e esperanças mortas."
O vagabundo parou de falar, das suas mãos caiu o copo, espatifando-se no chão. As venezianas da venda abriram-se e violentamente se fecharam. Quando os presentes levantaram a vista, o vagabundo havia desaparecido.

PS: importado

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Respondendo aos insistentes pedidos de antigos leitores do Epistolaonline, eis que anuncio o seu regresso. Na estrada, para a gloria de Deus.