Monday, November 2, 2009

A Lamparina



Hoje já não se vê lamparinas. Essas lanternas tradicionais que iluminavam as nossas noites sem luar, e às vezes até sem estrelas, há muito que foram para os museus. Elas estão lá para nos lembrar que muitos de nós, nascemos à sua luz. Muitos são doutorados hoje porque queimaram as pestanas nas lamparinas. Sim, esse simples utensílio, tão esquecido e desconhecido, iluminou-nos no passado.

Esses candeeiros têm uma peça fundamental, sem a qual, não podem produzir labareda para alumiar. Falo de pavio. É ele que sorve o azeite de purga, mais tarde petróleo, para que na pontinha que fica de fora haja a desejada luz. Quando o pavio era curto, não sorvia em condições e, portanto, como é óbvio não havia luz. Quando o pavio é curto não há luz.


Creio que, mesmo depois da era das lamparinas, a lição do pavio prevalece válida. Por vezes ela é curta porque nasceu curta. Precisa de enxerto para poder sorver com naturalidade o combustível necessário para provocar a luz. É verdade também que com o tempo se desgasta com a acção das labaredas. Quando isso acontece, há uma manivela para fazer subir o pavio e aumentar a sua capacidade luminosa.

Hoje já não precisamos das lamparinas e dos pavios. A era é de luz. Mas, por incrível que pareça, a impressão é que estamos e viver em trevas muito mais densas que as do tempo das lamparinas. Os nossos pavios estão desgastados de tal forma que já não nos suportamos uns aos outros. O abraço é mais para o inglês ver. Tudo o que pronunciamos é bem pesado e calculado. Meu Deus, onde foi parar a inocência do tempo das lamparinas?

O cinismo e o sorriso de plástico já tomaram conta da sala. O violino em um dos cantos, que tão bem arrancava aquela nota, está desafinado. Vivemos dias em que a cópia parece ter mais valor que o original. Parece mais vantajoso ser o que os outros querem que sejamos. Confesso que não sei ser o que os outros querem que eu seja.

Não sei por que carga de água amanheci hoje a pensar em lamparinas. Orei pedindo a Deus um pavio mais longo. Pedi mais azeite para esta minha lamparina.

Tenham todos um bom dia.

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Respondendo aos insistentes pedidos de antigos leitores do Epistolaonline, eis que anuncio o seu regresso. Na estrada, para a gloria de Deus.