Wednesday, May 7, 2008

Coluna do Dr. João Gomes

Neste período em que estou, no âmbito do Ministério dos casais da Igreja do Nazareno da Achada de S. António, a contactar vários possíveis locais para realizar o retiro anual da família, senti umas saudades enormes do vale de S. Francisco e dos acampamentos que ali se realizavam, principalmente dos dirigidos pelo «meu pai da fé», meu amigo e estimado irmão, Rev. Gilberto Évora. Também sinto saudades da juventude da Igreja do Nazareno da Praia, principalmente daquela dos meados dos anos 70, quando eu estava no início da minha adolescência!
Os acampamentos eram aguardados com tanta ansiedade que sentíamos um palpitar tão grande a modos de brotoejas na pele. Só de pensar em quem seriam os nossos companheiros nas tendas, nas pessoas que iríamos encontrar, qual seria o nome que daríamos aos dormitórios, quem seria o evangelista (daqueles que falam muito ou pouco?), enfim…, era o suficiente para nos dias anteriores, ficarmos sem dormir. E nunca os acampamentos deixaram de corresponder às nossas expectativas.
Efectivamente, sempre ficámos contentes com a distribuição das tendas e num acampamento memorável, fui acoplado ao Socorro Fontes (hoje Pastor em Mindelo), ao Victor Fontaínhas, ao Victor da D. Zizi e a mais um amigo cujo nome eclipsou-se da minha memória e a nossa tenda com o nome «mar del plata» ficou em segundo lugar na arrumação, actividade esta levada a cabo sempre com muita imaginação, deitando espantalhos nos catres e com folhas de palmeira a imitar as tendas dos emires e dos sheiks árabes. Fomos suplantados apenas por uma tenda (“Paloma Blanca”) de gente mais velha, composta pelo Guga Évora, Arlindo do Rosário e o Ney Bettencourt que tinham uma imaginação impar. Ah, e o colírio para os olhos que eram as campistas?! As nazarenas sempre foram bonitas, mas quem reinava como rainha absoluta dos nossos corações, era a “Kelinha” do Rev. Gilberto Évora que sempre foi a nº1 para nós, os adolescentes (e não só!). Nu tinha un fracu pa él! Eu, então…! Era só ela passar, que nós revirávamos os olhos, sonhando, sonhando…! Mas naquele tempo, a diferença de dois ou de três anos era muito e elas nem passavam cartão aos “garotos”. Quantas saudades!
Uma das características mais interessantes dos acampamentos de SF era a vigilância pretoriana do Rev. Évora que não dava um milímetro de possibilidade aos “cantores nocturnos” para dedicarem um verso às eleitas do coração, junto aos dormitórios delas. Quando pensávamos que ele estava a dormir, aventurávamos a sair das tendas e zás… uma luz da lanterna dele nos indicava de novo o caminho de volta para a caminha. E as desculpas de uma bexiga cheia também não pegavam. Quantas saudades! E que dizer dos saraus? Eram tantas as piadas, os sketches humorísticos, as paródias e as brincadeiras que o nosso abdómen chegava a pedir paz, pois já não podia contorcer-se mais com tantas gargalhadas. Igualmente, os evangelistas eram sempre bem escolhidos e tocados pelo Senhor, sendo raros os acampamentos em que não se convertiam pessoas, para o resto da vida. Eu sou uma delas! Quantas saudades!
Curiosamente, nos melhores acampamentos e sempre nos últimos dias, chovia torrencialmente, transformando todo o espaço num enorme lamaçal, dado o chão ser de terra batida. Depois de uma semana de enriquecimento espiritual fabuloso e de uma actividade lúdica formidável, estaria Deus a provar-nos? Não sei! Mas do que me lembro é de nunca essas intempéries terem feito mossa em nossa genuína alegria. Bem pelo contrário! Havia uma enorme solidariedade mútua, rapazes carregando as moças nas costas até o transporte, com a lama pelos joelhos, ajudando-as com as bagagens (as delas sempre em numero incrivelmente superior ao de toda a gente) e depois delas e dos casais pastorais estarem já a caminho da Praia, os rapazes e os rapazitos, ficavam para limpar tudo e esperar pelo próximo transporte. Numa ocasião, estando o camião a demorar, regressámos à Praia a pé, por S. Tomé e pelo caminho que ia ter ao aeroporto. Quantas saudades!
Que dizer, então, da juventude da Igreja da Praia desse tempo?! Quantas linhas sobre ela poderia eu escrever?! Como ela era dinâmica! Quanto talento! Dessa leva saíram muitos dos pastores e bons pregadores de hoje, inclusive o actual Superintendente Distrital. O Rev. Gilberto mantinha-a sempre em actividades, quer na igreja, quer fora dela! Quase que diariamente tínhamos actividades recreativas no salão da igreja, com muitos comes e bebes. Nas semanas de juventude, a Praia quase que parava, com a igreja repleta de gente e com musica e instrumentistas da melhor qualidade, muitos deles já com cds gravados. Numa dessas semanas juvenis, eu e o Djói Ferro conseguimos num só dia, recolher para o nosso grupo cerca de 30.000$00 junto às casas comerciais, e isso nos anos 70. Nos concursos bíblicos, a saudosa Fanny Araújo não dava hipóteses a ninguém! Quantas saudades! Por vezes, sinto vontade de imitar a grande fadista Amália Rodrigues e cantar «oh tempo, volta p´ra trás»! Recordar é viver!
João Gomes

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Respondendo aos insistentes pedidos de antigos leitores do Epistolaonline, eis que anuncio o seu regresso. Na estrada, para a gloria de Deus.