O acidente se deveu ao mau tempo – tudo explicado. O que ainda está muito mal explicado, ou melhor, não está explicado, é a forma como os passageiros foram salvos. Os pescadores do Porto Mosquito entraram em acção e salvaram 109 pessoas do navio “Musteru”. Isto também já se sabe. Felizmente apareceram esses bombeiros da verdadeira proteção civil, quais homens valentes que deixaram a sua faina e, com seus botes, salvaram vidas humanas. Não temos nem poderíamos ter nada contra quem quer que seja da Protecção Civil. Respeitamos e de que maneira. Mas ainda não entendemos como é possível que a nossa Protecção Civil só tenha chegado ao local às 10h30, quando tudo se deu antes do nascer do sol. O argumento da falta de comunicação, por não haver rede móvel, não colhe. Quando se trata de acidente do gênero tem de haver comunicação. Mas uma coisa é certa. Bastava à Protecçao Civil confessar a verdade para tranqüilizar a todos. Se dissesse: Não estamos preparados para acidentes deste tipo, todos nós entenderíamos e hoje estaríamos a exigir mais meios para que no futuro não sejam pescadores a salvar náufragos.
Mas preferiu-se ir para outro caminho. O de se desculpabilizar.
Um outro aspecto. A Protecçao Civil quando acordou e se deu conta do sucedido foi arranjar autocarros para transportar os salvos para Praia. Para transportar essa gente para Praia não era necessário a entrada em cena da Protecçao Civil. Bastavam autocarros da Moura Company ou hyaces, ou até mulas ou burros. Essa gente precisava chegar à terra firme e felizmente conseguiram, graças aos pescadores do Porto Mosquito. A Protecçao Civil nem precisava aparecer, tanto é, que os autocarros voltaram vazios para Praia.
Mas admitindo que estamos a cometer um grande engano, e se for, teremos de retratar junto da Protecçao Civil, quem deveria entrar em acção para salvar um navio, com 109 passageiros a bordo, que estava em grandes dificuldades? Se o afundamento tivesse sucedido em alto mar, lá onde os pescadores do Porto Mosquito não poderiam ir quem sairia para salvar essas vidas humanas? É seguro viajar de barco em Cabo Verde? Não se esqueçam de que em relação ao navio “Barlavento” ainda não se falou nas causas do acidente. Só se disse: “São coisas que acontecem”. Porque estamos num País de direito, as coisas não podem continuar a acontecer, a torto e a direito, sem que ninguém apareça para explicar e assumir responsabilidades. Ainda está a tempo de ser explicado. O navio “Barlavento” não está esquecido.
Voltemos ao “Musteru”. Já se disse que os clandestinos chegados ao País, no decorrer do ano passado, mereceram mais atenção que estes nossos conterrâneos. Estamos simplesmente a transcrever o que ouvimos dos náufragos. Será isso verdade? Alguém foi mais longe, afirmando:
Se a bordo do navio “Musteru” estive algum ministro, ou filho de ministro, ou algum deputado da nação, inventariam helicópteros para salvar todos os passageiros. Será isto verdade?
Respondam por favor.
Os intervenientes deveriam ser comedidos nos comentários que fazem. Por exemplo, o Sr Franquilim Aguiar, sócio-gerente da Polar, poderia ter mais sangue frio, e não falar como falou a respeito das afirmações feitas pelo pastor Noel Alves. O Sr. Aguiar é uma pessoa de bem. A seu respeito temos boas referencias, mas discordamos frontalmente da forma como falou do pastor Noel. Se o conhecesse, certamente não falaria como falou. Disse o Sr. Franquilim: Esperava-se que um pastor estivesse a consolar as pessoas e não a falar como falou. É certo que o pastor Noel fez críticas tanto à Protecçao Civil, como à Polar. Este homem de Deus, pastor Noel, nunca diria coisas sem estarem devidamente pesadas. Ele e os outros viveram na pele o que poderia ser uma tragédia. Ele viu a vida por um fio. Devemos esclarecer ao Sr. Aguiar e a todos que poderão não saber do verdadeiro papel do pastor que: primeiro, o pastor deve consolar o povo. Segundo, é também missão do pastor fazer papel de profeta, isto é, denunciar, sem medo, qualquer aspecto que não esteja conforme. Daí que, o pastor Noel não fez mais do que deveria fazer. Da nossa parte, até achamos que a Agência é menos culpado em tudo isto. Mas que há muita culpa sem que alguém ainda a tenha assumido, indubitavelmente, esta é a grande verdade que ninguém pode escamotear.
Se o naufrágio tivesse sido hoje, como agiriam os verdadeiros responsáveis para salvar aqueles passageiros? A resposta a esta pergunta poderá colocar um ponto final neste naufrágio.
Desejamos ao Polar que tão breve quanto possível consiga arranjar outro Barco e com a mesma coragem de sempre estaremos juntos a enfrentar o mar e o vento porque afinal: Isto é nosso destino.
Sugerimos que ao sucessor de “Musteru” fosse dado o nome de “Rabidanti” em homenagem aos muitos rabidantis que fazem a vida di riba desse mar e a bordo dos nossos navios. Aos valentes pescadores do Porto Mosquito, se algumas viagens lhes forem oferecidos no próximo “Musteru” justiça estariam a fazer e, de alguma forma, a pagar-lhes por terem feito o que fizeram. De justiça também será se for baptizado com o nome de “Rabidanti” porque, de uma forma geral, todos nós, cada um à sua maneira, andamos a rabidar a vida. E sempre juntos.
(Clique no título para ver algumas fotos)
Por: Jose Heleno Pereira
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