O capítulo 4 da Segunda Carta a Timóteo apresenta as últimas palavras e preocupações do apóstolo Paulo. Elas são endereçadas ao ainda inexperiente Timóteo e, para o escritor inglês John Stott, mostram que “mesmo que tenhamos sido profundamente transformados por Jesus Cristo, ainda somos seres humanos, com necessidades humanas”. E estamos cheios de necessidades. Não há exemplo melhor do que a novidadeira quermesse de bugigangas tecnológicas em que se transformou a mídia. Todos os dias somos apresentados a soluções novas para problemas que ainda não temos. E, claro, somos tomados pela sensação de inadequação ou pelo complexo de inferioridade, simplesmente porque ainda não enfrentamos aquela dificuldade que, “a partir de hoje”, estaria resolvida com a parafernália em oferta. É curioso que Paulo, próximo da morte, se preocupava com o futuro (“últimos dias” ou “virá um tempo”) e, paradoxalmente, apontava a solução no “passado” como quem aponta uma novidade esquecida (“permaneça nas coisas que aprendeu”). Os apelos do apóstolo não são fáceis de engolir. Para quem tem um mundo inteiro a um toque das mãos e uma máquina que, ao contrário de Baal, fala e traduz a minha língua, é difícil ouvir “a velha história”. Ainda assim, o livro de Timóteo é cheio de recomendações que nunca envelhecem — práticas conhecidas como a oração, a leitura da Bíblia, apelos éticos, apelos doutrinários. Simples assim. Ou, como diria N. T. Wright em Simplesmente Cristão (no prelo), “ser cristão no mundo de hoje é qualquer coisa, menos simples. Mas se há um tempo em que é necessário dizer, do modo mais simples possível, o que cada coisa significa, parece-me que é agora”.
• Marcos Bontempo,
Fonte e editor. http://www.ultimato.com.br/
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