Saturday, March 1, 2008

O choro pode durar uma noite...

O choro pode durar uma noite mas a alegria vem pela manhã (salmos 30:5).
Quando encontrei este arquivo, lembrei-me logo do salmo 30:5. É facil adivinhar o motivo do choro da criança na foto. Está com cara de quem está com fome e com falta de carinho. Os seus pés descalsos revelam a miséria que muitas crianças no mundo inteiro sofrem. Infelizmente, Cabo Verde não é excepção.
Temos na Praia e em Mindelo um crescente número de crianças de e na rua. Os pedintes infantis crescem a cada dia. É só andar pelas ruas do Plateau ou ficar por uns instantes no Sucupira para confirmar essa realidade.
Como é que nós, cristãos de hoje, tão empenhados em servir a Deus, conseguimos dormir quando sabemos que, na nossa rua e bem perto da nossa casa, estão crianças tremendo de frio e com gemidos, denunciando fome? Frequentemente, testemunhamos perto da nossa casa, crianças se alimentando em dois contentores de lixo. Depois, vêm nos bater à porta pedindo água. Quase sempre são acompanhadas de uns cães com as costelas às mostras. Que miséria!
Não nos consola o facto de estarmos melhores que a Etiópia ou outros países do nosso continente, em que as imagens da TV nos mostram crianças com aspecto cadavérico, prontas a partir para o outro mundo. Essas imagens nos eriçam (gorgunham-nos) os cabelos e nos corta o coração.
Dentro do nosso ser, não sabendo bem em que sítio, há uma criança que chora cada vez que vemos crianças a dormir na rua, a andar com os pés descalsos ou a tremer de frio. A nossa estrutura emocional não suporta ver uma criança a tremer de frio ou a chorar de fome.
Subscrevemos Pantera quando cantou “Pamodi ki Kriansa ka podi vivi, pamodi! Pamodi! Mundu sta xeio di malvadeza... Pamodi!”
Neste momento enquanto escrevemos, lembramos com muita emoção de uma viagem de barco que fizemos, tempos atrás, entre Praia e São Nicolau. Estávamos no convês do navio bem perto de duas crianças dos seus 7 a 8 anos. Estávamos lá porque o salão estava cheio. Numa altura quando o barco já estava bem longe soprava uma forte ventania. Nessa mesma hora, demos com aquelas duas crianças a tremer geladas de frio. Tínhamos uma boa manta e algo parecido com um colchão de esponja sobre o qual estávamos deitados, bem quentinhos. Sentimos aquela coisa, que não sabemos exactamente o quê, a vir de bem fundo do nosso ser, saltámos em direção às duas; oferemos a nossa manta e o que tínhamos a servir de colchão. Era só ver como as duas ficaram felizes. Aquela outra criança, que nestas ocasiões salta dentro de nós, serenou e conseguimos dormir. A viagem foi das melhores que já fizemos de barco. Uma história dessas, a nossa mente não consegue esquecer.
Infelizmente, ainda há crianças a chorar de frio durante a noite e sem o que comer pela manhã. Infelizmente.
Pantera tinha toda a razão em perguntar: PORQUÊ?

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Respondendo aos insistentes pedidos de antigos leitores do Epistolaonline, eis que anuncio o seu regresso. Na estrada, para a gloria de Deus.