Friday, April 18, 2008

Vale dos Cavaleiros




A ilha do Fogo é conhecida pelo seu mar malcriado. Em 1982, o seu cais acostável ficou aos pedaços, quando o navio “Ilha do Maio” embateu contra os seus muros, vítima do ciclone “Berril”. A coisa começou feia. Foi no dia 22 agosto de 1982 que ventos superiores a 120 km por hora afetaram as ilhas do sul principalmente a ilha Brava. Para além de despedaçar o cais do Fogo, destelhou a igreja do nazareno de Nova Sintra.
Um outro estrago não menos grave também se deu com o primeiro navio “Furna”. Este foi arrastado pelas altas e assassinas ondas daquela fatídica noite. Foi encalhar na praia daguada perto da baía de Furna.
Por muitos anos, a ilha do Fogo ficou sem ser tocado por uma embarcação. Os barcos fundeavam perto da praia e botes se encarregavam de fazer chegar à terra firme as cargas e as pessoas. Vezes sem conta, passageiros saíam bambudos nas costas dos braçais que não cobravam pouco dinheiro para tal serviço. Conta-se que muitas mulheres vaidosas recusavam ser agarradas por aqueles homens a cheirar maresia. Exigiam que fossem tomar banho antes de lhes tocarem. Depois de satisfeita a primeira exigência, essas burguesas falavam em alto e bom som que só montavam nesses cachos com albardas bem celadas. Depois de todas as exigências estarem cumpridas, porque não tinham outra saída, aceitavam ser carregadas como sacos de pirã no tempo do navio “Madalã”. Os braçais cansados de tanta grandeza dessas mulheres, outras sem beira nem eira, no meio do trajeto, tropicavam e caíam na água ficando a luisapã e a combinação delas e todo o resto às mostras. Refeitas do acidente provocado, agora é que começa a verdadeira carcutição. Esgravatavam até a bisdona dos homens do mar.
Os espectadores ficavam a desmaiar de graça.
Assim era o desembarcar na ilha do Fogo.
Durante a nossa estada no Fogo, ouvimos um braçal a recordar dos tempos idos confessando estar com saudades do tempo das albardas.
Coisas do Fogo!
Dá para entender?

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A Figueira está de volta

Respondendo aos insistentes pedidos de antigos leitores do Epistolaonline, eis que anuncio o seu regresso. Na estrada, para a gloria de Deus.