Monday, November 24, 2008

Néné – o marinheiro que estava no leme

Este na foto é o Sr. Néné, pescador e marinheiro experiente, que estava no leme do bote no fatídico dia 22 de Novembro passado. Levava 14 pessoas a bordo, sendo 2 crianças, 8 senhoras e 4 homens. Segundo nos contou esta manhã, por telefone, a intenção era desembarcar as pessoas na praia da nossa senhora, o que não aconteceu devido às ondas altas, depois dirigiu à praia de fonte Bila e ali o mar estava pior. Só depois é que decidiu ir ao porto de Vale dos Cavaleiros. Segundo ele, o bote começou a entrar água e momentos depois abriu-se por completo. Foram todos para água. Ele lamenta profundamente não ter podido salvar a sua própria esposa.
Pelo que conhecemos dele, pelas vezes que estivemos juntos no alto mar, ele é um conhecedor da maré e sempre transmite confiança aos companheiros. Pessoalmente, porque gostamos do mar e da pesca, quando pastoreávamos em Luzia Nunes, fomos pescar no bote dele por 3 vezes. De todas as vezes que percorríamos as várias milhas da costa à procura de melhor esquife, revelou-se como grande conhecedor daquela costa e nada fazia prever que um dia viesse a ter um acidente de tal calibre.
O bote que fora baptizado momentos antes com o nome de: “Di Zinha” pertencia ao Adolfo e foi-lhe oferecido pelo Sr. Lálá, professor no Liceu de São Filipe. Foi reconstruído e rebaptizado tendo como padrinhos Yara e Nelo. O pastor Luís Monteiro foi convidado a orar durante a cerimónia em Ladjeta. Durante o naufrágio, o homem de Deus presente revelou-se com muito heroísmo, não abandonando os companheiros. Teve toda a calma em ajudar os que não sabiam nadar. Mesmo deficiente, com apenas um braço conseguiu salvar 2 pessoas. Não fosse a valentia do pastor e do Néné, a desgraça teria piores contornos e, de certeza, com muito mais perdas humanas.
O dia que foi de festa em Ladjeta terminou com a mais longa noite de angústia e tristeza, com o calendário a registar a maior tragédia jamais vista no mar do Fogo, até então.
Segundo amigos em Luzia Nunes, nunca esta zona esteve tão assombrada como estes dias.
De recordar que Néné (na foto) ficou viúvo com alguns filhos menores para criar.
Nesta hora de sofrimento, juntamos a todos os enlutados em Luzia Nunes, gente que nos tratou como príncipe quando pastoreávamos ali.
Não podemos esquecer a amizade do povo de Calabaceira, em Luzia Nunes. Como esquecer do Tchilache, do sandique Abílio, do humor do Jopa, das partidas do Adolfo, do Pelada que não gostava de mexer o corpo, do dia que demos banho ao Inácio, da serenidade do Djoca e do Néné sempre calmo e conciliador. Dessa amizade sincera não podemos esquecer.
Nessa hora de sofrimento, fomos também atingidos em cheio.
Deixamos ao povo de Calabaceira, à Yara e ao Rony, bem como aos familiares da Cuty, em Lacacã, a promessa da Palavra de Deus em Salmos 46.
Tudo voltará ao seu normal.

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