I - As sociedades modernas estão excessivamente preocupadas com a auto-ajuda, como forma de melhor passarmos imagens positivas de nós mesmos aos outros. Os livros mais vendidos são aqueles que procuram ajudar-nos na nossa polidez para sermos bem sucedidos; na nossa educação para sermos influentes; na nossa inteligência para sermos famosos. Quem entrar em grandes livrarias como a FNAC em Lisboa ou outras no Brasil ou nos EUA, e for à secção de auto-ajuda, encontrará milhares e milhares de títulos, sendo a escolha a mais difícil das acções. Títulos bombásticos convidam-nos logo a abrir a carteira: “Como ganhar amigos e influenciar pessoas”; “Como ser bem sucedido na vida”; “A arte de causar boa impressão”; “De derrotado a poderoso”, etc. etc. Outros até têm títulos curiosos como “Seja mais feliz que Deus”. Em todos esses livros, o ponto central é o pensamento que nos convida a mostrar aos outros o nosso lado agradável, como forma de sermos, socialmente, aceites e bem sucedidos.
II – E nós enquanto cheiros de Cristo, qual é a imagem que estamos a transmitir ao público? Estamos a fazer jus à nossa caracterização como uma nação santa, uma geração eleita, um povo adquirido, para anunciar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz – I Pedro 2:8. Não é mau ler livros sobre auto-ajuda, sendo cristãos alguns dos seus autores. Na verdade, em muitos deles aprendemos a ter pensamentos positivos e a tirar melhor partido do mundo maravilhoso que somos nós mesmos. Joseph Murphy escreveu um livro que muitos devem ter lido “O Poder do Subconsciente”; Robert Schuller escreveu o poderoso “Pensamento da Possibilidade” e Augusto Curry já escreveu vários e vários livros que devem ser lidos por todos nós.
Mas mais importante que apenas ler esses e outros livros e de praticar as técnicas ensinadas, é ter a consciência de quem somos. Quem é que nos dá a possibilidade de vencer o inimigo? De onde vem toda a capacidade de alcançarmos mais e mais? Para ambas as perguntas, a resposta é a mesma – Jesus Cristo. Estamos quase a chegar à Páscoa, época em que nos lembramos com mais intensidade o sacrifício de Jesus por amor a todos nós, sacrifício que foi suficiente para que olhássemos para nós mesmos com dignidade e sem nojo, com esperança e sem desespero. Esse sacrifício derrubou todos os muros que antes obstaculizavam a nossa relação com o Pai.
III – Mas, então se isso é assim, se todos nós sabemos que é assim, se vivemos de acordo com esta verdade, porque deixamos tantas vezes o perfume de Cristo, azedar? Se sabemos que a nossa capacidade vem de Deus, como lemos em 2 Cor. 3:5, porque continuamos a ser cristãos subdesenvolvidos? Porque não ousamos correr, olhando para Jesus, como foi o lema anos atrás da Juventude Nazarena Internacional?
IV - Do meu ponto de vista, uma das razões prende-se com o facto de muitos de nós não sentirmos a alegria em ser cristãos. Não estou a falar da alegria que muitas vezes expressamos ao testemunhar «sou de Jesus, aleluia», mas refiro-me ao sentimento genuíno de júbilo que ecoa no fundo do meu ser e que me leva a gozar da vida diariamente, levando-me a ter paz comigo e com os outros mas especialmente com Deus. Existem muitos que (ainda) estão convencidos de que algo divertido, movimentado e colorido, só pode ser pecaminoso. Uma boa anedota, ainda que não seja ordinária, não tem lugar entre o povo espiritual; algo só é sagrado se for feito de forma fúnebre e sem emoção. Esta foi e, em alguns lugares ainda é, a imagem que vendemos ao mundo, de como é ser filho de Deus. Não admira que a ideia de cristão divertido choque algumas mentalidades.
VI – Outra das razões a meu ver é a falta de confiança nas obras que Deus pode fazer através de nós. Nós não somos capazes de fazer alguma coisa, mas a nossa capacidade vem de Deus – 2 Cor 3:5. Se eu perguntasse aos leitores deste blog «Será Deus capaz de fazer tudo?». Imediatamente, todos responderiam: «Claro, é claro que sim». Mas se eu fizesse essa outra pergunta: «Será Deus capaz de fazer tudo através de ti?» Então muitos iriam hesitar, baixar a cabeça e começar a mexer, nervosamente com as mãos e os pés e responderiam: «Não sei fazer isto e aquilo tão bem como fulano e beltrano, não sou grande coisa nesta ou naquela área…» e inventaríamos uma série de desculpas para não nos identificarmos como bons mordomos. Desde que guardemos os princípios da Palavra de Deus numa agradável, confortável e teórica distância, acreditamos em tudo. Só quando necessitamos de pô-los em prática, é que começamos a descrer. Parece que Deus se torna mais pequeno quando nos envolvemos. Paulo diz no verso 2 do Capítulo 3 “vós sois a nossa carta” e se nós dermos a volta à frase, podemos imaginar que é Deus a dizer “tu és a minha carta e cada linha escrita em ti é uma obra, é algo que podes fazer se tão-somente acreditares que podes fazê-lo, se tão-somente olharem para mim que sou o Autor e Consumador da tua fé”. Porque então continuar a ser cristãos subdesenvolvidos?
Quando nos entram pela TV imagens de tantos países africanos e vemos tanta gente que é somente pele e osso, mas ao mesmo tempo compreendemos que não estão assim por falta de comida, ficámos muito revoltados. Na verdade, a ajuda internacional tem feito chegar, quase em tempo útil, comida para debelar essa fome. Acontece que luta fratricida dos grupos beligerantes tem tornado a distribuição de alimentos difícil, senão impossível. Tantas vezes isso acontece também connosco. Deus tem posto tanta comida espiritual à nossa disposição que nos permitiria ganhar forças para a luta contra as hostes do mal; que nos permitiria ter mais confiança em nós e nos impulsionaria para estágios espirituais cada vez mais elevados e assim fazer melhores obras em nome do Senhor. Sejamos então capazes de ir, de avançar e de ter confiança que Deus poderá fazer grandes obras através de nós!
O sucesso do nosso ser, como perfume de Cristo é medido por ti e por Deus. Outros verão os resultados dos nossos sinais e olharão para as nossas conquistas. A forma como geres a tua imagem irá determinar como virá a resposta. Conta-se que um missionário foi à China e a primeira coisa que fez foi ir a uma escola aprender a língua. Logo no 1º dia, a professora que falava inglês, entrou na sala e sem dizer nenhuma palavra percorreu todas as filas das carteiras. Depois, e ainda sem dizer nenhuma palavra, ela andou à volta da sala toda. Então, ela voltou para a secretária dela e perguntou à classe: “Repararam alguma coisa especial em mim?” Ninguém conseguia pensar em nada de realce. Uma estudante, finalmente levantou sua mão e disse: “eu reparei que a professora está a usar um perfume maravilhoso”. Toda a classe começou a soltar um riso abafado. Mas a professora disse: “Esse é exactamente o ponto. Sabem, levará muito tempo até aprenderem a falar chinês suficientemente bem para compartilharem o Evangelho com alguém na China. Mas antes que isso aconteça, vocês podem ministrar a doce fragrância de Cristo a este povo, através da qualidade da vossa vida. É o vosso estilo de vida que fará toda a diferença!
João Gomes
PS: Esta foi, com necessárias adaptações, a mensagem que Deus colocou no meu coração, a qual foi compartilhada com a Igreja do Nazareno da Achada de S. António, num culto devocional de Domingo, durante o mês da mordomia.
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