Thursday, March 12, 2009

Coluna do Dr. João Gomes

O Perfume de Cristo
2 Cor. 2:14-17 e 3:1-5

I - As sociedades modernas estão excessivamente preocupadas com a auto-ajuda, como forma de melhor passarmos imagens positivas de nós mesmos aos outros. Os livros mais vendidos são aqueles que procuram ajudar-nos na nossa polidez para sermos bem sucedidos; na nossa educação para sermos influentes; na nossa inteligência para sermos famosos. Quem entrar em grandes livrarias como a FNAC em Lisboa ou outras no Brasil ou nos EUA, e for à secção de auto-ajuda, encontrará milhares e milhares de títulos, sendo a escolha a mais difícil das acções. Títulos bombásticos convidam-nos logo a abrir a carteira: “Como ganhar amigos e influenciar pessoas”; “Como ser bem sucedido na vida”; “A arte de causar boa impressão”; “De derrotado a poderoso”, etc. etc. Outros até têm títulos curiosos como “Seja mais feliz que Deus”. Em todos esses livros, o ponto central é o pensamento que nos convida a mostrar aos outros o nosso lado agradável, como forma de sermos, socialmente, aceites e bem sucedidos.


II – E nós enquanto cheiros de Cristo, qual é a imagem que estamos a transmitir ao público? Estamos a fazer jus à nossa caracterização como uma nação santa, uma geração eleita, um povo adquirido, para anunciar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz – I Pedro 2:8. Não é mau ler livros sobre auto-ajuda, sendo cristãos alguns dos seus autores. Na verdade, em muitos deles aprendemos a ter pensamentos positivos e a tirar melhor partido do mundo maravilhoso que somos nós mesmos. Joseph Murphy escreveu um livro que muitos devem ter lido “O Poder do Subconsciente”; Robert Schuller escreveu o poderoso “Pensamento da Possibilidade” e Augusto Curry já escreveu vários e vários livros que devem ser lidos por todos nós.


Mas mais importante que apenas ler esses e outros livros e de praticar as técnicas ensinadas, é ter a consciência de quem somos. Quem é que nos dá a possibilidade de vencer o inimigo? De onde vem toda a capacidade de alcançarmos mais e mais? Para ambas as perguntas, a resposta é a mesma – Jesus Cristo. Estamos quase a chegar à Páscoa, época em que nos lembramos com mais intensidade o sacrifício de Jesus por amor a todos nós, sacrifício que foi suficiente para que olhássemos para nós mesmos com dignidade e sem nojo, com esperança e sem desespero. Esse sacrifício derrubou todos os muros que antes obstaculizavam a nossa relação com o Pai.


III – Mas, então se isso é assim, se todos nós sabemos que é assim, se vivemos de acordo com esta verdade, porque deixamos tantas vezes o perfume de Cristo, azedar? Se sabemos que a nossa capacidade vem de Deus, como lemos em 2 Cor. 3:5, porque continuamos a ser cristãos subdesenvolvidos? Porque não ousamos correr, olhando para Jesus, como foi o lema anos atrás da Juventude Nazarena Internacional?


IV - Do meu ponto de vista, uma das razões prende-se com o facto de muitos de nós não sentirmos a alegria em ser cristãos. Não estou a falar da alegria que muitas vezes expressamos ao testemunhar «sou de Jesus, aleluia», mas refiro-me ao sentimento genuíno de júbilo que ecoa no fundo do meu ser e que me leva a gozar da vida diariamente, levando-me a ter paz comigo e com os outros mas especialmente com Deus. Existem muitos que (ainda) estão convencidos de que algo divertido, movimentado e colorido, só pode ser pecaminoso. Uma boa anedota, ainda que não seja ordinária, não tem lugar entre o povo espiritual; algo só é sagrado se for feito de forma fúnebre e sem emoção. Esta foi e, em alguns lugares ainda é, a imagem que vendemos ao mundo, de como é ser filho de Deus. Não admira que a ideia de cristão divertido choque algumas mentalidades.


V – Mas vamos olhar para as Escrituras e ver o que Deus diz de si mesmo? Vemos um Deus estático? Vemos um Deus sem cor? Vemos um Deus sem vida? O Diabo quer que pensemos que emoção e diversão são apenas departamentos dele, mas isso não é verdade. No livro de Apocalipse nos é narrado que existe um arco-íris à volta do trono de Deus e que o Criador de toda a energia não está nele sentado, passivamente. O livro de Sofonias mostra Deus cantando e regozijando-se com o povo. Ele celebrava, devido às acções daqueles que o amavam. É este Deus que nos criou à Sua imagem que é o centro de todo o divertimento, da emoção e de toda a alegria. Não é à toa que cantamos «que alegria sermos crentes, que alegria…».

VI – Outra das razões a meu ver é a falta de confiança nas obras que Deus pode fazer através de nós. Nós não somos capazes de fazer alguma coisa, mas a nossa capacidade vem de Deus – 2 Cor 3:5. Se eu perguntasse aos leitores deste blog «Será Deus capaz de fazer tudo?». Imediatamente, todos responderiam: «Claro, é claro que sim». Mas se eu fizesse essa outra pergunta: «Será Deus capaz de fazer tudo através de ti?» Então muitos iriam hesitar, baixar a cabeça e começar a mexer, nervosamente com as mãos e os pés e responderiam: «Não sei fazer isto e aquilo tão bem como fulano e beltrano, não sou grande coisa nesta ou naquela área…» e inventaríamos uma série de desculpas para não nos identificarmos como bons mordomos. Desde que guardemos os princípios da Palavra de Deus numa agradável, confortável e teórica distância, acreditamos em tudo. Só quando necessitamos de pô-los em prática, é que começamos a descrer. Parece que Deus se torna mais pequeno quando nos envolvemos. Paulo diz no verso 2 do Capítulo 3 “vós sois a nossa carta” e se nós dermos a volta à frase, podemos imaginar que é Deus a dizer “tu és a minha carta e cada linha escrita em ti é uma obra, é algo que podes fazer se tão-somente acreditares que podes fazê-lo, se tão-somente olharem para mim que sou o Autor e Consumador da tua fé”. Porque então continuar a ser cristãos subdesenvolvidos?


Quando nos entram pela TV imagens de tantos países africanos e vemos tanta gente que é somente pele e osso, mas ao mesmo tempo compreendemos que não estão assim por falta de comida, ficámos muito revoltados. Na verdade, a ajuda internacional tem feito chegar, quase em tempo útil, comida para debelar essa fome. Acontece que luta fratricida dos grupos beligerantes tem tornado a distribuição de alimentos difícil, senão impossível. Tantas vezes isso acontece também connosco. Deus tem posto tanta comida espiritual à nossa disposição que nos permitiria ganhar forças para a luta contra as hostes do mal; que nos permitiria ter mais confiança em nós e nos impulsionaria para estágios espirituais cada vez mais elevados e assim fazer melhores obras em nome do Senhor. Sejamos então capazes de ir, de avançar e de ter confiança que Deus poderá fazer grandes obras através de nós!


VII – A última das razões porque muitas vezes deixámos o nosso perfume azedar está ligada ao facto de sermos muito pouco cuidadosos no campo das relações inter-pessoais! O teu campo de oportunidade espera por ti. As tuas chances de gritar alto palavras de encorajamento e de gentileza e de ter atitudes positivas, são sem igual. A oportunidade de fortalecer os laços que te unem com o teu semelhante, com o teu próximo dependem dos sinais que envias e assim obterás respostas condizentes. Não esperes do outro gentileza se não estás a praticá-la; não esperes do outro conforto, se tu mesmo tens sido motivo de desconforto. Tantas vezes, nós no nosso meio cristão, temos uma amizade tão frágil que ao menos sopro do vento, se desmorona. É tão difícil cultivar o perdão, mas é tão fácil usar a arma da crítica.

O sucesso do nosso ser, como perfume de Cristo é medido por ti e por Deus. Outros verão os resultados dos nossos sinais e olharão para as nossas conquistas. A forma como geres a tua imagem irá determinar como virá a resposta. Conta-se que um missionário foi à China e a primeira coisa que fez foi ir a uma escola aprender a língua. Logo no 1º dia, a professora que falava inglês, entrou na sala e sem dizer nenhuma palavra percorreu todas as filas das carteiras. Depois, e ainda sem dizer nenhuma palavra, ela andou à volta da sala toda. Então, ela voltou para a secretária dela e perguntou à classe: “Repararam alguma coisa especial em mim?” Ninguém conseguia pensar em nada de realce. Uma estudante, finalmente levantou sua mão e disse: “eu reparei que a professora está a usar um perfume maravilhoso”. Toda a classe começou a soltar um riso abafado. Mas a professora disse: “Esse é exactamente o ponto. Sabem, levará muito tempo até aprenderem a falar chinês suficientemente bem para compartilharem o Evangelho com alguém na China. Mas antes que isso aconteça, vocês podem ministrar a doce fragrância de Cristo a este povo, através da qualidade da vossa vida. É o vosso estilo de vida que fará toda a diferença!

Queres voltar a exalar o perfume de Jesus e embelezar o mundo com o teu cheiro? Queres purificar o ar à tua volta? Queres exalar o prazer e a alegria de ser filho de Deus! Deus te abençoe!

João Gomes


PS: Esta foi, com necessárias adaptações, a mensagem que Deus colocou no meu coração, a qual foi compartilhada com a Igreja do Nazareno da Achada de S. António, num culto devocional de Domingo, durante o mês da mordomia.

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