Tuesday, August 14, 2007

COLUNA DO DR JOÃO GOMES

A LUZ E O SAL

No último retiro de casais da Igreja do Nazareno da Achada de S. António, que teve lugar em finais do mês de Maio último na Vila do Tarrafal de Santiago, e a convite da Igreja do Nazareno da Praia, no dia 12 de Agosto de 2007, tive o privilégio e a honra de ser o palestrante de dois temas: “O casal cristão e seu papel na sociedade” e “Cristianismo e Cidadania”. Foram temas muito semelhantes com vários pontos conexionados, pelo que, praticamente, não tive muito trabalho, pois, o esboço feito para o primeiro serviu, quase mutatis mutandis, para o segundo. Em ambas as ocasiões, pude compartilhar com os meus irmãos, alguns pontos de vista que no meu entender têm sido bastante descurados, não sendo este artigo senão uma sinopse desses temas.
Um dos primeiros pontos compartilhados (sufragado por todos) foi o da Igreja precisar redefinir a sua natureza e missão, para que ela consiga (nós consigamos) melhor identificar a sua (nossa) tarefa no mundo actual. Efectivamente, o mundo hodierno já não se compadece com as mesmas liturgias de há anos atrás, e os mesmos programas de sempre já não chegam para nós cumprirmos a nossa tarefa de ser o sal da Terra e a luz do mundo - Mateus 5:13 e 5:14. Temos de usar a nossa conversão como forma de influenciar, positivamente, o mundo, ao invés de, quais deuses num Olimpo menor, ficarmos, liturgicamente, a julgar os outros em funções de nossos padrões (pouco bíblicos, às vezes), sem qualquer efeito prático. Na verdade, se é imprescindível continuarmos a proclamar o evangelho, outrossim, é fundamental, sermos mais exigentes e ousados na nossa forma de actuação. A este propósito, foram lançadas algumas perguntas para nossa reflexão: (i) não obstante podermos ser leitores assíduos da Bíblia e nunca faltarmos às actividades da igreja, somos conhecidos na sociedade onde estamos inseridos, e em caso afirmativo, pelas boas razões? (ii) Se os (ainda) descrentes, não vierem à igreja, saberão da nossa existência? (iii) Temos tido voz e actuação perante os principais problemas que assolam a nossa sociedade: a toxicodependência, a violência doméstica, o sida (aids), o desemprego, a corrupção, entre tantos outros?
É um desafio tremendo para todos a tarefa de redefinir o nosso modo de agir, para que cada vez mais, sejamos, efectivamente, o sal e a luz do mundo. E isso começa logo pela área da influenciação política. Temos de ter coragem para estarmos cada vez mais presentes, individual e colectivamente, na arena politica, algo que não se restringe tão só ao direito de eleger e ser eleito para cargos políticos. Mas essa influenciação passa também por pressionar os órgãos decisores na tomada de posições legislativas e políticas que contribuam para a elevação da moral, da ética e da boa governação. Como disse alguém «o sal precisa sair do saleiro». E as Sagradas Letras nos avisam das consequências da nossa falta de participação política: «Quando os justos se engrandecem, o povo se alegra, mas quando o ímpio domina, o povo geme» - Provérbios 29:2.
Além disso, temos de ter a coragem para exercer de forma prática a nossa cidadania, quer como indivíduos, quer como comunidade cristã, significando, basicamente, participar na vida da “polis”. Na verdade, nosso envolvimento sócio-político não se restringe ao envolvimento em partidos ou em eleições, mas refere-se a toda expressão de vida comunitária: associações de moradores, de cidadãos, de estudantes, ONGs, significando para os cristãos a possibilidade de participarem na vida das suas comunidades e a assumirem posições em face dos problemas sociais, à luz dos ensinos da Bíblia. Aqui surge a possibilidade de a Igreja fazer parcerias com outros grupos sociais, como forma dela contribuir, de alguma forma, para aliviar a crise social. Não se pode ficar indiferente face à violência, à miséria, às drogas, à injustiça social que, a cada dia, vão chegando mais perto das nossas famílias e das nossas comunidades. Temos de exercer uma influência positiva, transformadora e libertadora em nossa sociedade actual. Que Deus nos dê graça e misericórdia para cumprir nosso papel, nesta geração. Muito mais havia a dizer neste contexto, mas os textos nos blogs devem ser pouco maçadores, e para não cansar os leitores, quedo-me por aqui!
No amor de Jesus,
João Gomes

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