Thursday, July 3, 2008

Samira, estudante e vendedora de drops

Na paragem de autocarro para Terra-Branca e Palmarejo, bem em frente da D. Celina Vasconcelos, encontramos uma moça de meia-idade com o seu tabuleiro a vender drops. O nome dela é Samira, mora em Castelão, mãe de dois filhos, solteira e lutadora. Ela é estudante nocturna do 10º ano de escolaridade.
O que nos chamou atenção, enquanto esperávamos o autocarro para Terra-Branca (demora-se muito a esperar autocarro para Terra-Branca), foi ter visto a moça a verificar um calhamaço de testes parecendo já corrigidos. De facto, ela consultava testes. Perguntamos se a nota do filho estava conforme, ao que ela respondeu de pronto: do filho não, são meus e nos deu para ver. Vimos 18; 17,4; 18,2 e assim sucessivamente. Então dissemos: não sabíamos que você era estudante. Julgávamos que fosses rabidante. Ela respondeu: sou as duas coisas mas sonho em fazer um curso superior. O dinheirinho que eu cato com o tabuleiro só dá para pagar a escola, mas não vou desistir.
Pedimos permissão para fotografá-la.
Estamos diante de um quadro desafiador. Enquanto não chega nenhum cliente, ela estuda a matéria, faz o TPC para apresentar logo à noite na aula e, nesses dias, confessa estar muito cansada devido às provas globais.
A acompanhá-la sempre, está a filha de 2 anos, (na foto ao pé do tabuleiro) quer chova, quer faça sol.
Se no nosso dia-a-dia vemos coisas que não gostaríamos de ver, é verdade que também vemos, embora com alguma raridade, quadros como o de Samira.

Ela nos desafiou a também estar presente na sua formatura, quando terminar o curso superior, para fotografá-la e escrever sobre ela. Se Deus nos der saúde, lá estaremos.
Caso o leitor desta página viva na Praia e tiver que passar pela avenida Amílcar Cabral, junto da paragem de autocarro para Palmarejo e Terra-Branca, pare e cumprimente a Samira. Se alguém lhe disser que a viu na net, mais forças terá para continuar a lutar. Quem não gostaria de ouvir palavras de incentivo?
Seria uma forma interessante de ajudá-la nesta árdua tarefa.
Como a Samira, há muitas outras lutadoras anónimas neste país que, enquanto outros festejam, elas estão lutando, com dignidade, para uma vida melhor.
Parabéns Samira.

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