Monday, October 27, 2008

Sonho + Fé = Saudade

As vicissitudes desta ingrata vida não a impediram de sonhar. Nem as mãos descarnadas da doença conseguiram tapar-lhe os olhos da visão. O sonho e a visão consorciaram-se no templo de sua mente. Que união feliz! E a realidade esboçava-se nas palpitações do seu coração. E o raio do sol entravam, por entre as aberturas da cobertura de palha, a beijar-lhe a face carinhosamente; o vento, por entre as frestas, assobiava-lhe uma canção de esperança. Ali deitada, ano a lamentar nem a chorar, ela sonhava, sonhava sempre...
“Darei ao Senhor esta minha casa para construção de uma capela”. Antevia as janelas rasgadas, o tecto substituído, as portas colocadas e o povo, dentro, a cantar. Recoberta pelo manto do Sonho dourado, ela adormeceu a sorrir! Assim, sorridentes, morrem os que combatem o Bom combate, acabam a carreira e guardam a Fé. D. Maria Gonçalves terminara a Carreira!

A fé foi dela e nossa

Ela não quis vender a sua casa, não a hipotecou, não a trocou. Ela a guardou para o Mestre como uma Dadiva de Amor. Ela procedeu como uma viúva pobre nos dias de Jesus, dando quanto possuía.
O pardieiro, então, passou a desafiar a nossa fé. Não dispúnhamos de posses para uma reconstrução. Mas, pela fe, ousamos dar o primeiro passo. O eco do nosso passo de fe ressoou. Agregaram-se a nós pessoas movidas pela boa vontade e pelo sentido de fazer bem.
Nossos ouvidos se afinaram ao cantar melodioso dos martelos, quebrando as pedras; as serras mordiam a madeira numa alegria feliz.
Um mês e dias de serviço. Os nossos olhos não podiam acreditar na capela “sui geniris”, que se aformoseava minuto a minuto em Nhagar.
O inacreditável estava patente, e rendemo-nos perante a evidência da realidade. Mais uma capela nazarena, mais um Facho de Luz!

A saudade foi toda nossa e de todos nós

O vento, repentinamente, deixou de ser malcriado. Silenciou, pressentindo a hora marcada para a inauguração da capela em Nhagar.
Sinos de lágrimas tangiam. As almas inundaram-se de luz.
A família nazarena estava no posto: o superintendente Rev. Gay e Exma. família, o Rev. Eades e Exma. família, o Rev. Correia e Exma. família, o Rev. Barros e Exma. Esposa, irmãos de Assomada, de Cabeça Carreira, de Volta do Monte, de Nhagar. Junto a família nazarena, funcionários e muitos amigos: senhores, senhoras e meninos.
Foguetes proclamavam a vitória, quando, com face florida de lágrimas, o pastor João Gonçalves, filho da doadora, cortou a fita verde, pendão de triunfo.
A multidão, aconchegando-se comprimindo-se, arrumara-se como avezinhas dentro do ninho do nosso santuário.
Na gloriosa tarde de 21 de Maio de 1965, em Nhagar, o sonho, a fe e a saudade confirmavam a obra magnifica que Deus vem realizando através da nossa Igreja do Nazareno.

Rev. Gilberto Évora

“In Epistola, Vol. 9, Nº 8, Agosto/1965”

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A Figueira está de volta

Respondendo aos insistentes pedidos de antigos leitores do Epistolaonline, eis que anuncio o seu regresso. Na estrada, para a gloria de Deus.