Conta-se que um homem que trabalhava o dia todo em seu moinho, certa tarde, muito cansado, voltou para a sua barraca. Ali tomou um banho refrescante, preparou sua refeição e depois de alimentado, sem ter com quem conversar, tomou uma xícara de chá fumegante, estendeu cuidadosamente a sua esteira a um canto da barraca e se deitou ao lado do braseiro. O frio era intenso, porém o homem, depois de bem agasalhado, encolheu-se na esteira e dormiu. Algumas horas se passaram e de repente, ao ouvir um ruído estranho e sentindo que as paredes da barraca oscilavam, movendo-se de um lado para outro, o homem despertou em sobressalto. Acendendo o lampião, ele viu com surpresa a cabeça de um camelo dentro da barraca. Antes de tomar qualquer atitude a fim de afastá-lo dali, o camelo suplicante falou: "Lá fora o frio está insuportável... Permita-me esconder tão-somente a minha cabeça dentro da sua barraca. Prometo não incomodá-lo e nem proceder inconvenientemente." O homem pensou por um pouco. Considerou então que o camelo estava certo, porque lá fora estava realmente muito frio. Assim deduzindo, o homem permitiu que ele continuasse com a sua cabeça escondida dentro da barraca. Depois de entendidos, voltou para a sua esteira, na tentativa de dormir e se refazer a fim de enfrentar a luta no outro dia. Tão logo se acomodou, continuou a sentir que a barraca continuava oscilando... movimentando-se lentamente...
Intrigado sentou-se na esteira e que quadro estúpido! Nem podia acreditar no que via: o atrevido animal já havia metido todo o corpo para dentro da barraca... O espaço de que dispunha era pequeno demais para os dois e,assim, era impossível continuar. Sentindo-se prejudicado, o homem reclamou, exigindo que o camelo se afastasse porque o que eles haviam combinado não era aquilo. A permissão foi dada apenas para a permanência da cabeça e não para o tronco e os membros... Muito bem instalado e se sentindo à vontade, o camelo retrucou, com ironia: "Os incomodados que se mudem. Estou muito bem aqui."
Caro leitor, o pecado na vida do homem age exatamente como o camelo dessa lenda. Sem que percebamos ele sorrateiramente invade os nossos corações reivindicando um lugarzinho qualquer. No entanto, ao ceder seus apelos, ele vai penetrando vagarosamente, pouco a pouco, até conseguir ocupar toda a área disponível do coração, sem depois aceitar sair.
Como muito bem afirmou Hernandes Dias Lopes, o pecado é uma fraude. Promete prazer e paga com o desgosto. Faz propaganda de liberdade, mas escraviza. Levanta a bandeira da vida, mas seu salário é a morte. Tem um aroma sedutor, mas ao fim cheira a enxofre. Só os loucos zombam do pecado. O pecado é perverso. Ele é pior do que a pobreza, do que a solidão, do que a doença. Enfim, o pecado é pior do que a própria morte. Esses males todos não podem destruir sua alma nem afastar você de Deus, mas o pecado arruína seu corpo, sua alma e afasta você eternamente de Deus.
Soli Deo Gloria,
Renato Vargens
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