Tuesday, September 23, 2008

Quando não cumprimos a nossa missão

Mulher, a partir de hoje não atendo mais telefone. Diga que não estou, não cheguei, sei lá!
- E se for coisa importante?
- Não quero saber, tenho minha vida, meus negócios e quero sossego aqui em casa. Os outros que se danem, deixem recado!
- Pai, o telefone está tocando!
- Se for para mim, filho, minta, diga que não estou!
- Mentir???
- Isso mesmo, ou você nunca fez isso?
Eram três horas da madrugada, quando o telefone iniciou seu grito da noite. Encheu, chateou, perturbou e nada de alguém pegá-lo.
A esposa dizia:
- Levanta, Zé!
- Não vou, não vou e não vou...! Três e quinze. O telefone parou.
Dormiram o sono dos justos.
No dia seguinte foi para a empresa. Caprichos do “destino”. O sinal vermelho apareceu. Parou o carro. A seu lado, na calçada, uma banca de jornal. As revistas pornográficas expostas acintosamente, um menino olhando e, ao lado, um jornal escancarado com uma manchete violenta: “Suicídio no Bairro Milionário.” A foto logo abaixo era... era do seu amigo, sim, do maior amigo que ele tinha.
Quando o sinal abriu, deu a volta no quarteirão e retornou para casa. Pegou a esposa e foi para casa do morto. Entrou tremendo. O peso da dor pairava no ar e, ao abraçar a viúva, perguntou por quê. A resposta veio:
- Ele estava mal de situação... não falava para ninguém... as firmas à porta da falência... ele vivendo da aparência... precisava mostrar-se forte como sempre... medo de perder... perder a influência... às três da manhã, levantou-se desesperado. Não conseguiu dormir. Pegou o telefone e disse que ia ligar para o maior amigo que tinha. Não queria dinheiro, queria apenas um apoio, um ouvido para escutá-lo... O amigo não estava...não estava...
Levanta Zé!
Levanta Zé!
Levanta Zé!

Por Neimar de Barros

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