Tuesday, October 2, 2007

COLUNA DO DR. JOÃO GOMES


Eu sou um melómano confesso! Sou viciado em música. Adoro a conjugação de acordes que trazem tanto prazer aos meus ouvidos. Houve alturas que eu gastava pequenas fortunas na compra de cds, os quais foram com o passar dos tempos, substituídos por mp3s. O meu IPOD tem uma memória de 80GB o que significa poder armazenar 20.000 músicas (não preenchi nem um décimo ainda), para que todos os meus sons favoritos possam estar sempre comigo e ter a chance de acordar com eles, passear, correr e dormir com eles.
A música foi o elemento comum que fez com que nascesse uma amizade tão rápida entre mim e o Pastor Orlando Baptista, e está sendo difícil para mim habituar-me à ideia de não mais tê-lo na Igreja da Achada de S. António para juntos ensaiarmos tantas e tantas ideias que me iam surgindo de forma abstracta, mas que o “Ná”, com uma mestria insuperável, ia embelezando com acordes espectaculares e que me abençoaram tremendamente. Mesmo nas canções escritas por mim há muito tempo, ele conseguia acrescentar sempre qualquer coisa, como se estivesse estado comigo no momento do parto dos primeiros acordes. Ambos gostávamos de ensaiar os números especiais, vezes sem conta, até os mesmos ficarem em “ponto de pérola”, e defendíamos a ideia de que o Louvor era (e é) algo que deve ser levado com muita seriedade, procurando sempre a excelência. Não se deixem enganar, o Pastor Baptista é um CRAQUE, é um MAESTRO, domina como poucos a técnica harmónica e tem uma sensibilidade e um ouvido excepcionais. Vou sentir muito a falta dele, mas desejo-lhe as melhores venturas nesta nova etapa da vida dele, e não me repugna dizê-lo que sinto uma pontinha de inveja daqueles que com ele vão passar a privar. Pastor, espero podermos voltar a fazer muita coisa interessante, para a Glória de Deus! Um até breve!
Mas o parágrafo antecedente foi uma ponte para entrar no cerne deste artigo. O Salmista no capítulo 47, verso 7 exorta-nos a cantar louvores com inteligência, isto é com conhecimento conceitual e racional, com o intelecto, e não simplesmente com o mero mexer de lábios, numa emoção litúrgica, em que o que parece interessar é a batida melódica bonita e não as palavras que edificam. Vêem-se dvds e ouvem-se cds de grupos evangélicos espalhados por este mundo fora, e o louvor em muitas Igrejas passou a ser a imitação rigorosa, até nos gritinhos e nos trejeitos de voz, do conteúdo daqueles suportes musicais. Muitos desses grupos são excelentes e compuseram canções ricas, quer do ponto de vista lírico, quer do ponto de vista harmónico. Mas será que são canções congregacionais? Eu não creio e não estou sozinho nesta posição! Existem tantos coros nossos, tantos corinhos brasileiros (muitos traduzidos do inglês) tão belos e edificantes, tantos hinos do hinário “Louvor e Adoração” e do Cantor Cristão que traduzem tão bem os valores sobre os quais nos assentamos que, sinceramente, não creio termos necessidade de introduzir em nosso louvor, cópias de espectáculos muito bem montados, mas que não passam disso mesmo – espectáculos!
Cantar louvor com inteligência significa também, do meu ponto de vista, perdermos parte do nosso tempo, na preparação do louvor. Não é concebível, como tive a oportunidade de compartilhar, certa vez, com a juventude da ASA, de darmos o nosso melhor na preparação de alguma actividade secular, e termos como inabalável a ideia de que para Deus, qualquer coisa serve. Quando somos convidados para dirigir o louvor não nos devemos limitar, de forma ligeira, a juntar coros que só a nós agrada, a escolher hinos aleatoriamente e pronto, já está! Pelo contrário, procuremos saber qual é o tema da mensagem do culto em questão, pois o tempo do louvor não é uma mera acção lúdica, ele tem de estar conexionado com o momento alto de cada serviço – a entrega da Palavra de Deus.
Assim, sempre que possível, devemos procurar reunir, antecipadamente, com os músicos (se estes existirem) para os necessários ensaios, como forma de entregarmos o melhor de nós para Aquele que é digno da nossa adoração! A mediocridade e a ligeireza não se coadunam com a Majestade de Deus, Ele é digno do nosso melhor. Se temos algum talento musical, procuremos aperfeiçoá-lo cada vez mais, buscando o apoio naqueles que sabem mais do que nós, mas sejamos nós mesmos, com limitações mas sem imitações. Cantai-lhe um cântico novo; tocai bem e com júbilo - Salmos 33:3!

Nota: voltou o nosso irmão com suas reflexões. Até que enfim. Ja estávamos com saudades.



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A Figueira está de volta

Respondendo aos insistentes pedidos de antigos leitores do Epistolaonline, eis que anuncio o seu regresso. Na estrada, para a gloria de Deus.